observador.ptObservador - 6 jun. 00:18

Combater é preciso

Combater é preciso

A grande diferença é que Cavaco tinha, mal ou bem, uma ideia de país, e Costa tem apenas uma ideia semi-juvenil de poder. Por isso Cavaco deixou um país economicamente muito diferente, e para melhor.

Foi um primeiro-ministro de um Governo que beneficiou muito dos fundos europeus e que, ao mesmo tempo, os desperdiçou. Que confundiu o Estado com o partido. Que protegeu ministros que o país já não tolerava. Que teve confrontos sindicais graves. Que usou os funcionários públicos e os reformados como triunfo político, fazendo dos orçamentos arma de luta partidária. Que de alguma maneira abriu caminho político a uma série de gente mais ou menos delinquente. É curioso como quase todas as críticas que regra geral se apontam a Cavaco Silva fazem ricochete em António Costa. Não importará referir as evidentes diferenças de personalidade entre ambos. As diferenças entre os dois são conhecidas. Mas, de certo modo, e para resumo, António Costa é como que uma espécie de Cavaco Silva em versão lado lunar, porventura mais cínico e bonacheirão.

Curiosamente, ambos foram indigitados chefes de Governo depois de um período de intervenção externa e austeridade. É verdade que Cavaco Silva foi o primeiro-ministro, em democracia, que mais sucessos económicos teve para apresentar. Sob certa perspectiva, necessariamente unidimensional e monofocal, terá mesmo sido o melhor primeiro-ministro que o país teve em 50 anos. Sucede que isso é, por si mesmo, um problema. António Costa tinha o dever de ter destronado Cavaco pelo menos num ponto: tirar o país de um buraco. Não conseguiu, nem conseguirá.

Porque a grande diferença entre eles é que Cavaco tinha, mal ou bem, uma ideia de país, e Costa tem apenas uma ideia semi-juvenil de poder. Por isso mesmo, Cavaco deixou, em 1995, um país economicamente muito diferente, para melhor, do que tinha recebido em 1985; e António Costa, com grande probabilidade, deixará um país em 2026 (se o deixar) praticamente no estado em que o recebeu em 2015. Nem bem, nem mal, antes pelo contrário, comparativamente mais pobre, alegremente não ainda miserável.

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