www.publico.ptpublico.pt - 5 jun. 21:13

Beatriz Haddad Maia: “O ténis não é uma corrida de 100 metros, é uma maratona”

Beatriz Haddad Maia: “O ténis não é uma corrida de 100 metros, é uma maratona”

A tenista é a primeira brasileira a atingir os quartos-de-final do Torneio de Roland-Garros desde 1968.

Dormiu mal devido à ansiedade, mas soube manter-se sempre no presente. Mesmo quando as emoções não a deixaram, por três vezes, fechar o primeiro set, frente a Sara Sorribes Tormo, igualmente estreante nos oitavos-de-final do Torneio de Roland-Garros. Depois de deixar escapar o set inicial e perder os três primeiros jogos do segundo, Beatriz Haddad Maia não parou de lutar e tentar ser agressiva e acabou por receber a recompensa no final do encontro feminino mais longo de 2023: é a primeira tenista brasileira a chegar aos quartos-de-final de Roland Garros em 55 anos, sucedendo a Maria Esther Bueno.

Haddad Maia (14.ª) serviu a 5-2, 5-4 e 6-5, sem nunca obter um set-point. Perdeu cinco jogos de serviço consecutivos e, na segunda partida, viu Sorribes Tormo (132.ª) liderar por 3-0. Até que “breakou” a espanhola e iniciou uma série de sete jogos consecutivos que lhe permitiram retomar o ascendente no encontro. No set decisivo, Haddad Maia liderou por 4-2 e 5-3, mas desperdiçou três match-points no jogo seguinte. Regressada à competição em Abril após uma paragem de sete meses devido a lesão, Sorribes Tormo viu a adversária sem confiança e igualou a 5-5, após uma dupla-falta da brasileira. Mas Haddad Maia voltou a atacar e concluiu o encontro, pelos parciais de 6-7 (3/7), 6-3 e 7-5, ao fim três horas e 51 minutos – 16 minutos menos do que o encontro feminino mais longo da história do torneio francês.

“Penso que o ténis não é uma corrida de 100 metros, é uma maratona, pelo menos os meus encontros. A minha mentalidade é não desistir e dar uma oportunidade mais a nós mesmos, mesmo quando as coisas não correm bem. A chave foi a disciplina, ficar calma e aceitar que estava a falhar e que ela jogava melhor. Estamos em Roland-Garros, no court Suzanne Lenglen e vou tentar até ao último ponto”, explicou a brasileira, que, este ano, já protagonizara outros três encontros de mais de três horas.

Bia, como é conhecida, detém 20 títulos, dos quais cinco foram ganhos em courts portugueses. A última passagem competitiva pelo nosso país registou-se em Setembro de 2021, nas Caldas da Rainha, onde tem família. Era então 174.ª e poucos adivinhavam que um ano mais tarde, estava no top 20 e com dois títulos do WTA Tour conquistados.

“Tive que lutar muito, disputar torneios de 25 mil, challengers, qualifyings de torneios WTA e sempre a construir o meu jogo e a tentar ser mais agressiva. Comecei igualmente a trabalhar com um novo treinador há três anos, que me deu outra perspectiva do ténis. Já tive lesões, passei por quatro cirurgias, mas penso que é por isso que sou muito forte quando jogo durante três, quatro horas. Estou também muito orgulhosa por causa disso”, recordou Haddad Maia.

Além do trabalho há também a inspiração dos antigos campeões brasileiros, como o tricampeão Gustavo Kuerten. Quando “Guga” triunfou pela primeira vez em Roland-Garros, Bia tinha um ano de idade. “Costumava treinar na Academia de Larri Passos [treinador de Guga], encontrei-o lá várias vezes. Uma das coisas que ele ensina a todos é jogar com o coração. É uma inspiração para mim, assim como Maria Esther Bueno. Mas não me comparo com eles, ambos estão noutro nível”, frisou a brasileira.

A adversária de Haddad Maia é Ons Jabeur (7.ª). A tunisina derrotou Bernarda Pera (36.ª), por 6-3, 6-1, em 63 minutos – ainda Haddad Maia não tinha concluído o primeiro set – para estrear-se nos “quartos” do Grand Slam que lhe faltavam.

No outro quarto-de-final, a polaca Iga Swiatek (1.ª) defronta a norte-americana Coco Gauff (6.ª) numa reedição da final de 2022.

No torneio masculino, as maratonas têm sido ainda mais comuns. Nesta segunda-feira, Holger Rune (6.º) levou quatro horas para ultrapassar o argentino Francisco Cerundolo (23.º), por 7-6 (7/3), 3-6, 6-4, 1-6 e 7-6 (10-7). O dinamarquês de 20 anos esteve longe de assinar uma boa exibição, mas soube reagir depois de não fechar quando, no quinto set, serviu a 5-4 e esteve em desvantagem por 3/5 no super tie-break (até aos 10 pontos).

Um dos lugares nas meias-finais será decidido entre Rune e Casper Ruud, quarto do ranking e finalista em 2022, que derrotou o chileno Nicolas Jarry (35.º), por 7-6 (7/3), 7-5 e 7-5.

NewsItem [
pubDate=2023-06-05 22:13:22.0
, url=https://www.publico.pt/2023/06/05/desporto/noticia/beatriz-haddad-maia-tenis-nao-corrida-100-metros-maratona-2052341
, host=www.publico.pt
, wordCount=706
, contentCount=1
, socialActionCount=0
, slug=2023_06_05_1037575443_beatriz-haddad-maia-o-tenis-nao-e-uma-corrida-de-100-metros-e-uma-maratona
, topics=[ténis]
, sections=[desporto]
, score=0.000000]