observador.ptObservador - 5 jun. 00:20

Alcançar uma vida boa dá muito trabalho

Alcançar uma vida boa dá muito trabalho

Quanto menos os portugueses dependeram do Estado para terem uma Vida Boa menos relevante será o BE. E hoje o BE luta por ser relevante. Nessa luta soluções simples e populistas são sempre uma tentação

Vida Boa para os portugueses é o mote escolhido por Maria Mortágua, a nova coordenadora do Bloco de Esquerda. Nesse desejo, a nova líder do BE está totalmente alinhada com 100% dos portugueses. De tão pueril, o jornalista Vítor Gonçalves, na Grande Entrevista da RTP, perguntou-lhe se não achava que desejar Vida Boa aos portugueses não soava um pouco a discurso de Miss Mundo. Ainda que cada um de nós possa ter a sua própria conceção de vida boa, podemos facilmente alcançar um consenso relativamente a muitas das dimensões essenciais para alcançar essa condição. O acesso à habitação, salários mais elevados e menos precariedade, acesso a uma educação de qualidade, a cuidados de saúde ou a transportes regulares, eficientes e de qualidade. Estamos todos de acordo em relação à importância de garantir a todos os portugueses o acesso a estes bens e serviços. Ou seja, defender como programa uma Vida Boa para os portugueses, não distingue em nada o BE de qualquer outro partido. Aquilo que deve distinguir os partidos são as propostas para alcançar uma Vida Boa para os portugueses.

Na Grande Entrevista da RTP, Mortágua defendeu que a Vida Boa, em que as pessoas têm acesso àqueles bens e serviços essenciais – habitação, saúde e educação – deve ser um dado adquirido. De acordo com a coordenadora do BE, as pessoas não deviam ter de lutar para alcançar aqueles bens. Uma história do paraíso na terra, para crianças. Os países que conseguem hoje aproximar-se desse paraíso na terra são os países nórdicos, como a Suécia, a Dinamarca ou a Noruega. No entanto, esses países, para garantirem um conjunto alargado de direitos a quase toda a população, precisaram de muitas gerações e de estratégias de desenvolvimento que colocaram a sua capacidade de produção de riqueza entre as mais elevadas do mundo. É essa riqueza que permite redistribuição de recursos e a proteção dos mais frágeis. A criação de riqueza nunca esteve entre as prioridades do BE.

Para além de propostas de redistribuição, ao BE não se conhecem propostas consistentes de melhorar a vida dos portugueses. Por exemplo, em 2023, há cerca de 1,7 milhões de portugueses sem médico de família. Mais um milhão que no início do primeiro governo de António Costa. O BE fez parte da Geringonça que viabilizou os dois primeiros governos minoritários do PS. Como moeda de troca condicionou as políticas do PS na área da saúde. Os resultados que hoje temos na saúde em muito se devem às medidas propostas pelo BE, que se baseavam em querer afastar os privados do sector da saúde e em despejar dinheiro sobre o Serviço Nacional de Saúde. Os resultados estão à vista de todos: rutura dos serviços p��blicos em áreas essenciais como as maternidades e um enorme aumento do número de portugueses que dependem do sector privado para resolver os seus problemas de saúde. Mortágua fala dos problemas que existem no setor da saúde como se o BE nada tivesse que ver com isso.

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