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O fogo de vistas do crescimento de 2023

O fogo de vistas do crescimento de 2023

A economia portuguesa cresceu 1,6% no primeiro trimestre deste ano face ao trimestre anterior, ultrapassando as expectativas. O governo congratulou-se, mas lamentou que esse êxito não fosse reconhecido, isto é, visto como efeito das suas boas políticas.

A verdade é que a economia vem crescendo não devido às políticas públicas, mas apesar das mesmas. O crescimento deveu-se sobretudo ao contributo da procura externa, com reflexo no aumento das exportações e do turismo, sendo negativo o contributo da procura interna - é o INE que o diz. Deveu-se ao dinamismo das empresas, empresários e gestores, que permitiu adaptarem-se com êxito às mudanças das conjunturas internacionais, criando novos mercados e consolidando os tradicionais. E não foram eles os responsáveis pelo deficiente contributo da procura interna.

Ao reivindicar os louros, o governo também confunde crescimento a curto prazo com crescimento a longo prazo. Este depende da expansão do setor produtivo, do investimento que aumenta a capacidade instalada e utilizada na produção de serviços e bens comercializáveis, esses que geram rendimento, emprego e riqueza. É nesta área que se afirma a bondade das políticas públicas como incentivadoras do investimento industrial, da reorganização empresarial, do uso de novas tecnologias, da produtividade. Ou a maldade das mesmas, na proliferação dos custos de contexto, nas burocracias do licenciamento, verdadeiro condicionamento industrial, no esbulho fiscal que desvia recursos das empresas, numa justiça demorada que favorece os litígios, distorce o mercado, cria incerteza e dissuade iniciativa.

Ausente a bondade, foi essa maldade das políticas que condenou Portugal a crescer apenas 1,2% ao ano nos últimos 25 anos e que também leva a que as perspetivas para o longo prazo, designadamente do FMI, não vão além de uns frustrantes 2%.
Nem o PRR é bem utilizado como apoio ao crescimento sustentável da economia, perdendo-se, como magistralmente referiu o professor Daniel Bessa em publicação recente, em "muita transformação digital, muita transformação energética, mas investimento baixo nas empresas e na capacidade instalada".

E como aqui nada se altera, o fogo de vistas do bom crescimento de curto prazo de 2023 apaga-se já em 2024, segundo as previsões da Comissão Europeia. Fogo de lágrimas!

Economista

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