observador.pt - 27 mai. 11:07
Henry Kissinger: o pensamento movediço de um homem frio
Henry Kissinger: o pensamento movediço de um homem frio
Atropelou alguns aliados, deixou cair outros, por vezes sem escrúpulos. Tudo por uma forma alargada de ver a política. No centenário do homem-solução, lembramos a filosofia que ajudou a mudar o mundo.
É difícil não nos deixarmos fascinar por Henry Kissinger. Um daqueles fascínios culpados e magnéticos por esta estranha figura com uma frieza que não quadra com uma ambição burlesca de tão óbvia, com um escopo intelectual larguíssimo, mas vulnerável às maiores mundanidades, sempre à procura de uma solução original, tão próximo do desastre e do grande êxito.
Kissinger (nascido a 27 de maio de 1923 em Fürth, na Alemanha) é um filho da segunda guerra, mais um dos judeus alemães que atravessaram o Atlântico para escaparem à perseguição nazi e encontraram nos Estados Unidos um mundo que os absorveu e os engrandeceu como nunca na Europa poderia acontecer. Kissinger, que não era propriamente um herdeiro magnata, entrou na América nos tempos de liceu, passou da escola à tropa e da tropa, num daqueles encontros fortuitos que abrilhantam o sonho americano, ao mundo académico. Aos vinte e poucos anos entregava em Harvard uma tese monumental sobre o significado da História, seguido daquela que se tornou a sua primeira obra publicada, cheia de pistas para o seu pensamento que só passados estes anos podem ser verdadeiramente percebidas: Um mundo reconstruído: Metternich, Castlereagh e os problemas da paz (1957).
Kissinger podia ser mais um académico erudito, mesmo que Harvard facilitasse a sua integração nos programas de governo. Não escasseiam os teóricos das relações internacionais discretos que tiveram passagens pelo governo americano, quer em serviços de consultoria, quer em organismos mais permanentes; Kissinger, no entanto, não só procura sempre alargar o a influência e o poder dos seus projetos – é o caso do OCB, que Kissinger transformou, de um órgão marginal dentro do Conselho Nacional de Segurança, numa organização até problemática de tão influente – como deixa transparecer uma vontade de se dar com gente influente e um inegável fascínio pelo poder. Os seus anos como diretor do Seminário Internacional de Harvard mostram isso mesmo: um Kissinger diplomata, sempre à procura de alargar a sua influência, de um modo que o tornará, anos depois, tão polémico quanto essencial para Nixon.
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