www.dinheirovivo.ptdinheirovivo.pt - 27 mai. 11:36

Paulo Dimas: Europa ″está na liderança″ da legislação sobre IA

Paulo Dimas: Europa ″está na liderança″ da legislação sobre IA

O vice-presidente de inovação da Unbabel afirma que a Europa ″está na liderança″ da legislação sobre inteligência artificial (IA), o que permite ″posicionar″ os produtos desenvolvidos em Portugal nos primeiros a respeitarem a regulação.

O vice-presidente de inovação da Unbabel afirma, em entrevista à Lusa, que a Europa "está na liderança" da legislação sobre inteligência artificial (IA), o que permite "posicionar" os produtos desenvolvidos em Portugal nos primeiros a respeitarem a regulação.

A Unbabel lidera um "grande consórcio" de IA responsável, que pretende posicionar Portugal na vanguarda neste âmbito.

"A Europa está numa posição muito interessante do ponto de vista da regulação", afirma Paulo Dimas, que é líder do centro de IA responsável, uma iniciativa que é apoiada pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Em 11 de maio, as comissões de Mercado Interno e de Liberdades Cívicas do Parlamento Europeu aprovaram o início das negociações com o Conselho sobre o primeiro regulamento da Inteligência Artificial na União Europeia (UE), que irão arrancar após um aval em junho.

"Isto para nós é ótimo", porque permite "posicionar os produtos que são desenvolvidos cá em Portugal em inteligência artificial como os primeiros do mundo a respeitarem esta legislação", acrescenta Paulo Dimas.

A UE "tem aqui um papel muito importante porque é um dos maiores mercados do mundo e todos estes produtos, para poderem ser comercializados" neste espaço europeu, "vão ter que respeitar esta regulação", prossegue.

"Portugal pode aqui ter um papel muito importante no sentido que estamos a criar massa crítica de conhecimento, de tecnologias e de produtos precisamente à volta da inteligência artificial responsável que, no fundo, está a ser regida por esta regulação", sublinha.

A IA responsável é um termo que reflete o desenvolvimento de sistemas de IA justos que reduzem o preconceito e o impacto negativo da tecnologia para grupos discriminados.

Para o consórcio é "uma oportunidade que é muito excitante, estamos a pensar neste tema já há bastante tempo", refere.

Aliás, quando a ideia deste consórcio de inteligência artificial responsável "começou a ser germinada", esta coincidiu com a apresentação do primeiro esboço da proposta europeia de regulação sobre IA ('AI Act').

"Portanto, todos os produtos que foram pensados foram pensados neste contexto", salienta Paulo Dimas.

O vice-presidente de inovação da Unbabel admite que o lançamento do ChatGPT no final do ano passado "fez com que houvesse uma corrida" em todas as frentes no desenvolvimento de soluções de inteligência artificial generativa pelas grandes tecnológicas.

As consequências deste frenesim em torno deste novo nível de IA ninguém sabe, pelo que têm sido muitas as vozes a alertar para os riscos, entre os quais o britânico Geoffrey Hinton, um dos pioneiros do desenvolvimento da IA, que se despediu da Google para alertar com maior liberdade para os perigos destas novas tecnologias.

"Para já, toda a gente pede regulação, mesmo até a OpenAI [criadora do ChatGPT], a Google pedem regulação", mas depois "a atitude em relação à regulação diverge muito da cultura de cada Estado, temos um espectro regulatório que vai desde a Europa, que tem em curso a mais completa iniciativa de regulação de inteligência artificial, cujo 'draft' final foi submetido há dois anos e que agora foi muito revisto por causa do ChatGPT", até aos Estados Unidos, prossegue.

Paulo Dimas, que leu o documento revisto, procurou quantas vezes estava escrita a expressão 'foundation model' [modelo fundacional, que cria a fundação para outros modelos que depois trabalham em cima desse], que é o equivalente ao ChatGPT.

"Na primeira versão aparecia zero e agora aparece 35 vezes", indica.

Portanto, "vê-se que há aqui um sentido de urgência de contemplar todos os riscos. De facto, são os maiores riscos de sempre da história da tecnologia" que a IA generativa tem, com o seu modelo fundacional, diz.

A inteligência artificial generativa é capaz de criar conteúdos novos. De uma maneira sintética, utiliza algoritmos para criar textos, música, imagem [uma até já foi premiada num concurso de fotografia], música, vídeos, entre outros, sem a participação de um ser humano no processo.

A União Europeia "está de facto na liderança da legislação" e os países desta região "serão eventualmente os primeiros do mundo a ter legislação aprovada nesta área", acrescenta.

Noutro extremo, salienta, estão os Estados Unidos ou o Reino Unido, que "têm atitudes muito diferentes em relação à regulação e que dão muito mais importância à inovação", portanto, "há sempre aqui uma tensão nestas áreas", em que a regulação é vista como forma de atrasar a inovação.

No caso europeu, uma das grandes dúvidas era saber se a legislação iria considerar os modelos fundacionais como o ChatGPT (IA generativa) de alto risco, pois "havia uma grande tensão entre os relatores" sobre este tema.

Tal não aconteceu, "está escrito de forma muito clara" que os 'foundations models' não considerados IA de alto risco, "contudo têm uma série de cláusulas que têm de respeitar" para serem utilizados no espaço europeu, "sob o risco de depois terem de pagar multas altíssimas que podem ir ate 2% da faturação destas grandes empresas à escala global", aponta.

"Todos estes pontos estão muito alinhados com a inteligência artificial responsável, estamos a falar de questões de transparência", ou seja, indicar quando estão a ser utilizados que não são seres humanos "porque há a hipótese de criar a ilusão" quando se interage com este sistema de que se trata de uma pessoa e isso pode levar "a efeitos altamente perversos", salienta Paulo Dimas.

Outra das questões é o 'copyright', direito do autor, em que "tem de ser tornado transparente".

Por exemplo, se um modelo for treinado a usar dados da Lusa, passa a ser obrigatório que identifique isso.

A regulação também indica que têm de ser identificados os riscos que estes modelos têm para a saúde, segurança, democracia, entre outros.

Por isso, "têm de indicar que têm planos de mitigação para estes riscos", os quais são aferidos por peritos independentes.

Numa outra dimensão, está a questão da cadeia de valor da IA. Agora, quem construa uma aplicação em cima, por exemplo, do ChatGPT para um determinado fim, o risco fica nessa entidade e não no ChatGPT.

Paulo Dimas classifica a legislação de "equilibrada" e afirma que o "'timing'" desta "é ótimo" para o consórcio liderado pela Unbabel.

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