expresso.ptRui Malheiro - 26 mai. 10:15

O dia da marmota

O dia da marmota

Vivemos hoje claramente focados no acessório, e não no estrutural. Tenho realmente alguma dificuldade em me recordar em que ponto deixamos de pensar no nosso futuro

Tal como no clássico filme interpretado por Bill Murray “O Feitiço do Tempo”, todos os dias acordamos com a sensação de que estamos a viver o mesmo dia, todos os dias.

Diariamente ouvimos falar dos casos que vão ocorrendo dentro do Governo, da desgovernação que nos é apresentada em todas as notícias e assistimos com um sentimento de impotência à falência de todas as instituições que deveriam ser o garante de estabilidade da sociedade portuguesa.

Vivemos hoje claramente focados no acessório, e não no estrutural: o que trará de novo a Comissão Parlamentar de Inquérito da TAP? Que medidas avulsas serão apresentadas pelo Governo nas próximas semanas? Qual será o próximo escândalo governamental? Estas são as conversas banais de dias que parecem exatamente todos iguais.

Tenho realmente alguma dificuldade em me recordar em que ponto deixamos de pensar no nosso futuro, no futuro do nosso país e no futuro dos nossos descendentes. Logicamente que na situação que o país atravessa será sempre muito mais fácil direcionar a atenção da população para escândalos e mediatismos do que para soluções de compromisso com o futuro e com vista à melhoria de condições de vida dos portugueses.

Nessa ótica fico sempre com a sensação de que quem está ao leme do país, ou que pretende vir a estar, tem muita dificuldade em sair da encruzilhada da espuma dos dias e navega nas suas ondas, com esperança que os leve a bom porto.

Atente-se em três exemplos claros: o Presidente da República, o primeiro-ministro e o (pseudo) líder da oposição. No caso do primeiro assistimos a uma transformação notável de uma pessoa que era Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo, para passar a ser nada todo o tempo em lado nenhum; o caso de António Costa também é algo semelhante, preferindo simplesmente descartar responsabilidades e assistir a um concerto dos Coldplay a ter de enfrentar a dura realidade de Portugal.

No caso de Luís Montenegro assistimos a uma fortíssima consistência de não conseguir apresentar soluções para o país, mas sim discutir permanentemente todos os casos diários do Governo e do partido que o suporta. O que claramente não o torna em alguém em que os portugueses confiem cegamente o seu futuro.

O grande twist a que assistimos nesta película monótona, a que se resume a vida política portuguesa, ocorreu há dias quando de repente, qual Regresso ao Futuro, sem nos apercebermos estávamos nos anos noventa! Desde alegados esquemas camarários entre executivos e construtores civis que pensávamos já não serem possíveis nos dias de hoje, até discursos de Cavaco Silva de que já poucos temos memória, tudo o que nos pode reconfortar nostalgicamente numa viagem temporal de fazer inveja até ao cantor David Bruno.

Cabe portanto, aos inconformados, lutar por tudo o que acreditam ainda ser possível fazer diferente neste país. Apresentando rumos claros para a melhoria das condições de vida dos portugueses, apreendendo as suas verdadeiras dificuldades e transmitindo cristalinamente a mensagem de que sim, sim é possível sairmos deste pântano a que nos querem amarrar e sim existem alternativas de futuro. Sempre existiram e sempre existirão, não nos deixemos emaranhar num discurso paternalista e conformado. Lutemos por um dia de amanhã muito melhor do que foi hoje e deste modo garantimos o futuro do futuro.

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