observador.ptObservador - 27 mai. 00:22

Tutti Frutti e o momento "Casablanca" do PSD

Tutti Frutti e o momento "Casablanca" do PSD

Montenegro pode continuar a simular ignorância sobre o que se passa no PSD/Lisboa. Mas não haja ilusões: como diria Maria José Nogueira Pinto, ele sabe que nós sabemos que ele sabe que nós sabemos.

É uma das cenas mais conhecidas da história do cinema. A ação do filme “Casablanca”, como se sabe, passa-se durante a Segunda Guerra Mundial, na cidade administrada pelo governo francês colaboracionista de Vichy. A dada altura, no café de Rick, o expatriado norte-americano interpretado por Humphrey Bogart, alguns clientes começam a cantar a Marselhesa. Encolerizado, um oficial nazi exige ao chefe da polícia local que feche o café como medida punitiva. Obediente, depois de fazer um soar um apito para calar a sala, o polícia simula indignação e informa, em voz alta, que o estabelecimento vai ser encerrado. Quando Humphrey Bogart lhe pergunta o porquê de uma medida tão radical, ouve a frase que depois se tornaria célebre: “Estou chocado! Estou chocado por descobrir que aqui há jogo clandestino!”. Obviamente, havia pouco choque e muito teatro. Afinal, um dos apostadores regulares no Rick’s Cafe era o próprio chefe da polícia.

E agora chegamos a uma coincidência divertida: sabem como se chamava o chefe da polícia que fingiu estar “chocado” com aquela prática que todos conheciam? Chamava-se Louis. Nem de propósito: esta semana, Luís Montenegro também jurou estar chocado com a descoberta súbita de que no PSD de Lisboa se passam coisas reprováveis que levaram à intervenção da polícia. Depois da primeira notícia da TVI/CNN sobre a investigação do Ministério Público chamada Tutti Frutti, Luís Montenegro escreveu no Twitter: “É impossível pactuar com a corrupção da democracia. Temos de saber a verdade e tirar consequências. Exige-se que a justiça seja rápida e conclua esta investigação”.

Se o líder do PSD está tão preocupado com a “corrupção da democracia”, se está tão empenhado em saber “a verdade” e se está tão apressado para “tirar consequências”, então o melhor é não ficar dependente dos tempos, dos critérios e das limitações do sistema judicial. Luís Montenegro é o líder do partido e, por isso, pode fazer perguntas, pode chamar pessoas, pode olhar para documentos, pode analisar contratos, pode falar com empresários e pode cruzar nomes. Ou então, se não quiser fazer nenhuma destas coisas, elementares mas cansativas, pode simplesmente ler artigos antigos do Observador.

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