observador.ptObservador - 26 mai. 00:17

A inteligência dos eleitores

A inteligência dos eleitores

Se cada grupo de especialistas for o melhor decisor para as políticas públicas da sua área, que espaço resta para a política democrática, baseada nas maiorias de todos os cidadãos por igual?

A non-trivial share of the people are idiots.”
Professor universitário Russo, Março de 2022

Em Março de 2022, um professor universitário russo escreveu uma carta a uma académica ucraniana radicada nos EUA. Na sua carta, tentava explicar as várias posições dos seus colegas na sua universidade na Rússia quanto à invasão que Putin acabara de ordenar. O professor universitário, opositor da invasão, tentava explicar como seria possível que, muitos dos seus colegas, cidadãos com elevada educação, concordassem com as decisões do regime. Tentava também explicar por que razão não via centenas de milhares de cidadãos russos a protestar contra o regime, em massa, nas ruas ou no espaço público. Entre os seus argumentos estavam a violência e repressão do regime, os traumas e resquícios do passado Soviético e, talvez mais importante, o papel da propaganda e do controlo de informação. Dizia ele que uma proporção não trivial da população não pode, ou não quer, procurar informação não-unilateral ou deseja simplesmente ficar de fora da política. E, infelizmente, num regime autocrático como a Rússia, a informação mais fácil de obter, disponível em todo o lado, é a propaganda do regime. Não por acaso, há cerca de quatro anos, os académicos Sergei Guriev e Daniel Treisman cunharam o termoinformational autocrats”: a manipulação de informação e o boost artificial da popularidade do líder são técnicas absolutamente centrais de manutenção do poder em ditaduras, autocracias competitivas e democracias iliberais nos dias de hoje. (Naturalmente, Putin, tendo sido incluído na tribo, não tem problemas em utilizar também a violência e repressão extremas, como todos já testemunhámos)

Em Maio de 2023, num contexto completamente diferente – e, felizmente, num país com problemas incomparáveis aos que acabei de descrever em cima –, muitos Portugueses, pelo menos os mais atentos às notícias da actualidade política, perguntam se será possível obtermos real accountability na nossa democracia. Como será possível termos responsabilidade política e administrativa por falhas e abusos institucionais graves, como a que sucedeu com os Serviços de Informação da República, ou por conluios entre partidos para que não tenham de competir politicamente de forma séria e distribuírem rendas entre si de forma fácil? Será possível que a democracia e os eleitores deixem passar isto impune?

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