ionline.sapo.ptCarlos Gouveia Martins - 25 mai. 11:44

Me*dosos

Me*dosos

Todos estes milhares de casos saem a uma cadência diária e engane-se quem ache que é por haver maior escrutínio apenas. Deve-se à clara falta de qualidades humanas de quem está nos cargos atualmente. Deve-se ao facto de hoje haver uma clara falta de noção e falta de vergonha de quem é ou está nomeado.

Hoje é difícil ser-se bem visto por quem seja estando-se na política partidária ativa.

Estes maus exemplos, que já vencem claramente os poucos bons exemplos que ainda temos, minaram totalmente a imagem e sobretudo a credibilidade de todos aqueles que abnegadamente se entregam por gosto à causa pública. Estes, a maioria dos que estão filiados em partidos políticos, mais de 90%, estão na causa pública sem vencimentos e dedicando-se nas horas vagas a ser membros de comissões políticas, membros de Assembleias de Freguesia ou membros de Assembleias Municipais. A única coisa que regra geral ganham, para além de uma mísera senha de presença, é o amuo de amigos e família pelas horas que dedicam ao que os outros consideram ser “uma seca inútil”.

Não interessa o partido em que militam, os maus exemplos.

Como também há muitos nomeados para cargos e conselhos de administração públicos que, sem serem militantes de partido algum, têm culpa por clara incapacidade de resolver problemas e manifestos casos de nepotismo que fazem às claras.

São umas centenas que prejudicaram milhares de abnegados. São umas dezenas de parasitas da credibilidade que infetaram toda uma imagem nacional perante os dez milhões de portugueses.

Não é desta semana. Começa a ser desde sempre.

Foi com o caso BPN-BES, Freeport, LuandaLeaks, José Sócrates, corrupção e enriquecimento ilícito em casos de Obras Públicas, Água, em PPP’s, no Orçamento do Estado e até no Metro de Lisboa. Há dezenas de mais casos que conferem uma descredibilização total à atual imagem pública sobre políticos em funções. Agora, nestes dias, volta algo com quase dez anos: A operação tutti-frutti. Mais uma vergonha.

Não têm perdão possível. Mas todos eles deveriam ter algo: A porta de saída escancarada. Sem apelo nem agravo. Sem questionar sequer, é irem todos juntos embora e dedicaram-se às suas causas privadas porque na esfera do Estado, em torno da Função Pública e em cargos de confiança política não merecem ter mais um minuto das suas vidas.

Representam tudo o que é errado.

Representam tudo o que queremos combater.

Representam o que nos faz andar tão devagar no caminho de um país democraticamente sério, honesto e credíveis aos olhos dos portugueses que possa dedicar o seu tempo a traduzir políticas públicas que visem melhorar a Educação, a Saúde, a Habitação e o Emprego e poder de compra.

Com estes casos estamos a repelir os bons dos cargos públicos. Há bons portugueses. Sérios, honestos e que trabalham com uma dedicação ímpar. Esses, que seriam excelentes gestores, presidentes de conselhos de administração ou membros de governo sabem uma coisa: Rejeitariam qualquer convite porque não querem ser misturados na lama da credibilidade de quem está “político”.

Os negligentes, aqueles que passam à frente nas filas da seriedade, os que abusam do poder, os que usam a causa pública para enriquecer os seus bolsos fazem perdermos a esperança na credibilidade e honestidade da causa pública continuam aí. São Governantes. São Ministros. São Deputados. São Presidentes de Câmara.

Os que trabalham pela educação dos outros (que não têm condições dignas remuneratórias há anos), os que dedicam horas a mais das suas vidas a salvar as vidas dos outros (que vêm os seus Hospitais em capas de jornais deprimentes todos os dias por falência de estratégia de quem lidera o setor), os que criam empregos e lançam empresas que dão melhor qualidade de vida a milhares de pessoas (que são tributados de forma indigna, que pagam tanto ao Estado que dá mais vontade de não fazerem nada!), esses não continuam por aí. Não querem participar nos órgãos autárquicos locais. Não querem sequer aparecer numa fotografia ao lado de qualquer candidato ao que seja. Não querem nem ler notícias. Alguns, já nem votam porque sentem-se injustiçados.

É esta a dicotomia que temos. Os bons e os maus. Os que fazem falta e não querem saber e os que não fazem falta nenhuma e estão em todo o lado.

Não tenho dúvidas: Cada vez há menos bons interessados e a causa pública cada vez mais está entregue aos que são maus exemplos e usam a política (partidária ou não) para fins pessoais e dos amigos ou da família.

A todos esses que fazem-nos perder o encanto pela política, o fascínio pela discussão de ideias e o amor pela democracia quero dedicar-lhes a mesma palavra que um ex-vice-líder parlamentar do PSD usou, escutado numa gravação da operação Tutti-Frutti, ao referir-se a outros candidatos políticos num acordo com o PS em Lisboa. São isso mesmo: Uns Me*dosos.

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