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Visão | Húbris, engodos e crenças: 5 erros fatais na política

Visão | Húbris, engodos e crenças: 5 erros fatais na política

Não há tolerância com o erro que sempre dure, sobretudo se as pessoas andarem infelizes e os bolsos estiverem mais vazios

Benjamin Franklin não se importaria se eu pegasse na frase dele e lhe acrescentasse que nada é mais certo neste mundo do que a morte, os impostos e os políticos a fazerem asneiras, mais ou menos percetíveis da opinião pública. Errar é humano, e a política não oferece exceção, muito pelo contrário. Aqui fica uma listagem de alguns erros fatais na política. E, sim, qualquer semelhança com a atualidade política não será coincidência.

1. Deixar-se toldar pela húbris. Vem de longe, pelo menos desde a Antiguidade, a ideia de que o poder vicia e corrompe até a mais bem-intencionada das almas. Já os romanos o sabiam com clareza, quando estipularam que, durante os desfiles de triunfo perante o povo, após uma batalha, os generais vitoriosos deviam ter um escravo ao lado para lhes sussurrar ao ouvido as palavras “memento mori”. Este “lembra-te de que és mortal”, repetido por várias vezes numa caminhada de glória, deveria fazê-los descer à terra e desinsuflar a sensação de superioridade e a arrogância que vem com ela. .

3. Relacionado com este erro está outro: manter uma relação difícil com a verdade. Há quem diga que a política é a arte de mentir de propósito. Não pode ser. Só há uma verdade, não várias. Só existe uma história rigorosa, não uma amálgama de versões moldáveis a bel-prazer. Os eleitores, lá está, não são parvos e gostam pouco de ser claramente enganados. Uma mentira continua a ser fatal para a credibilidade de um político.

4. Acreditar piamente nas sondagens. Eis um erro de palmatória, como se viu, aliás, nas eleições legislativas passadas. As sondagens, cujo tratamento jornalístico é muitas vezes enganador e superficial, não são profecias que se autoalimentam. Muita coisa pode influenciar negativamente a captação da perceção e das intenções de voto dos eleitores. Desde logo, as sondagens podem ser malfeitas, tendenciosas nas questões e subjetivas no tratamento. Por outro lado, elas têm efeitos dinâmicos sobre a realidade e acabam, muitas vezes, por condicionar desfechos diferentes dos que previam. Quanto maior o número de indecisos, mais perigoso é fazer previsões, até porque o eleitor puramente racional é um mito.

5. Pensar que não há alternativa. Eis um dos erros mais comuns em lugares de poder, seja na política seja nas empresas: achar-se insubstituível. Acredita-se na inércia das pessoas, na sua humana aversão ao risco, e desvaloriza-se assim o adversário ou o concorrente. Só que, perante a necessidade, as alternativas constroem-se. Em democracia, há sempre saídas e soluções. Estas podem, é um facto, ser piores do que as que existem, mas isso os eleitores só descobrem quando o mal está feito.

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