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Visão | Meningite bacteriana, uma infeção que sempre assusta. Como os investigadores acreditam ser possível travá-la e a explicação de um pediatra

Visão | Meningite bacteriana, uma infeção que sempre assusta. Como os investigadores acreditam ser possível travá-la e a explicação de um pediatra

Os dados existentes dão conta de que, todos os anos, surgem 1,2 milhões de casos de meningite bacteriana em todo o mundo e que, caso não seja tratada, pode matar sete em cada dez pessoas. Um pediatra explica como se pode evitar esta doença

Uma investigação publicada no início deste mês, e conduzida por cientistas da Harvard Medical School, em Boston, Massachusetts, nos EUA, concluiu que as bactérias Streptococcus pneumoniae e Streptococcus agalactiae, quando atingem as meninges, membranas que protegem o cérebro e a medula espinal, desencadeiam uma série de eventos que culminam numa infeção disseminada, provocando meningite bacteriana. A equipa realizou várias experiências em ratinhos, com o objetivo de perceber como se processa uma infeção deste tipo, e sugeriu que bloquear um desses eventos com medicamentos pode mesmo travar a infeção. 

Esta é uma doença infeciosa aguda transmissível, caracterizada pela inflamação das meninges, e que pode ser causada por diferentes bactérias, sendo que as mais frequentemente envolvidas são a Streptococcus pneumoniae (pneumococo), incluída no estudo, a Haemophilus influenzae tipo B e a Neisseria meningitidis (meningococo), que provocam infeções graves potencialmente fatais. Esta última pode, inclusivamente, progredir de sintomas iniciais não específicos até à morte em apenas 24 horas, sendo que, em Portugal, o meningococo B é o agente mais frequente de infeção.

Estas bactérias exploram as células nervosas nas meninges para eliminar a resposta do sistema imunitário, permitindo que a infeção se espalhe para o cérebro. “Por atingirem o cérebro, surgem os sintomas típicos de dores de cabeça, vómitos, sonolência, febre, rigidez dos músculos do pescoço, sensibilidade à luz ou mesmo convulsões”, explica à VISÃO Sérgio Neves, pediatra no Hospital Lusíadas Lisboa. Podem, também, surgir outros sintomas menos específicos como dor abdominal, diarreia e lesões cutâneas, esclarece o médico.

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Os dados existentes dão conta de que, todos os anos, surgem 1,2 milhões de casos de meningite bacteriana em todo o mundo e que, caso não seja tratada, pode matar sete em cada dez pessoas.

Atualmente, trata-se a meningite bacteriana, que se transmite através do contacto direto com gotículas e secreções nasais favorecidas pela tosse, espirros, beijos e pela proximidade física a outros doentes, com a administração combinada de antibióticos, que eliminam as bactérias, e esteroides, utilizados com o objetivo de reduzirem a inflamação. Contudo, os esteroides podem enfraquecer mais as defesas, alimentando a propagação da infeção. Além disso, caso haja atrasos no diagnóstico da doença, o desfecho pode não ser positivo.

PREVENIR É A CHAVE. COMO?

Existem vacinas que previnem a meningite bacteriana por meningococo, pneumococo e Haemophilus e que são administradas a crianças. Em Portugal, faz parte do Plano Nacional de Vacinação (PNV) a vacina contra o Haemophilus Influenzae b, que prevê a administração de quatro doses nas crianças entre os 2 meses e os 18 meses.

Também está incluída a vacina contra o grupo B (meningite B) aos 2, 4 e 12 meses, para todas as crianças nascidas a partir de 1 de janeiro de 2019, que protege contra a doença causada pela bactéria Neisseria meningitidis do grupo B, e a vacina contra o grupo C (meningite C), aos 12 meses, que se destina a prevenir a doença invasiva por Neisseria meningitidis do grupo C. Isto significa que todas as crianças nascidas antes de 2019 cujos pais não tenham optado pela vacinação podem estar em risco na imunização contra esta infeção.  

Sérgio Neves explica que os adolescentes são os principais portadores de meningococo, podendo disseminá-lo a familiares, como crianças pequenas e idosos, e outros adolescentes, por frequentarem diferentes locais diariamente, o que pode desencadear surtos.

“Também é o grupo com menor cobertura vacinal, sendo que, em Portugal, não estão abrangidos pelo Programa Nacional de Vacinação no que respeita à vacina anti-meningocócica tipo B. Por isso, no caso de surgirem doenças, os sintomas podem ser mais progressivos e menos valorizados pelos cuidadores, o que pode implicar avaliações médicas em urgência mais tardias”, informa o médico.

O pediatra alerta também para as complicações neurológicas que podem surgir caso a meningite bacteriana não seja tratada no momento, como o desenvolvimento de paralisias e convulsões, mas também para os problemas hematológicos – coagulação intravascular com hemorragias e trombos nos vasos -, cardiovasculares e respiratórios que podem surgir. “Após a infeção aguda, poderão surgir sequelas nomeadamente no neuro-desenvolvimento, como epilepsia, surdez, amputações de membros. De acordo com o agente bacteriano e com a suscetibilidade da criança ou adolescente, essas sequelas podem atingir os 25%”, afirma.

Por isso mesmo, quando se fala de meningite bacteriana, prevenir é a chave, garante o pediatra. “A vacinação traz proteção individual, mas não pode ser considerada a imunidade de grupo como fator protetor das crianças”, afirma, acrescentando que devem ser evitadas “viagens ao estrangeiro antes da primeira vacinação completa, entre os 6 e os 12 meses, em particular para África e América latina”.

Além disso, Sérgio Neves aconselha os cuidadores a adiarem a entrada das crianças no infantário até aos 12 meses, sempre que seja possível, a evitarem estar muito tempo em locais fechados, como supermercados e centros comerciais, a reforçarem a imunidade, promovendo o aleitamento materno, uma alimentação saudável sem alimentos processados e atividades ao ar livre, e a prevenirem acidentes com a utilização de capacetes quando se andar de bicicleta, por exemplo. O pediatra refere ainda a importância de não partilhar escovas de dentes, talheres e copos na prevenção da transmissão da infeção.

A meningite pode ter vários agentes além das bactérias, como vírus, parasitas e fungos. As meningites a vírus são geralmente menos graves, não necessitam de antibióticos para serem tratadas e têm menos complicações. Contudo, em termos clínicos, podem ter os mesmos sintomas de uma meningite bacteriana. Já os parasitas e os fungos atingem geralmente indivíduos imunodeprimidos.

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