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Lucian Freud em perspetiva

Lucian Freud em perspetiva

A obra do marcante artista britânico Lucian Freud apresenta-se, em nova exposição retrospetiva, em Madrid, até ao próximo mês de junho.

Até 18 de junho de 2023, o Museu Nacional Thyssen-Bornemisza, em Madrid, acolhe a exposição "Lucian Freud: novas perspetivas" que reúne cerca de meia centena de obras de um dos mais relevantes artistas europeus da segunda metade do século XX.

Lucian Freud nasceu em Berlim, na Alemanha, em dezembro de 1922 e era neto do famoso psicanalista Sigmund Freud (Chéquia, 1856 - 1939). De origem judia e para escaparem ao antissemitismo nazi em ascensão, a família consegue instalar-se em Londres, em 1934, tendo-lhes sido concedida, em 1939, a nacionalidade Britânica. O avô acaba por falecer nesse mesmo ano, já depois da chegada a Londres.

Nos primeiros anos em Londres, Lucian estudou nas melhores escolas artísticas, destacando-se a sua passagem pela Goldsmiths, University of London (1942-43), já depois de ter sido dado como inválido para a marinha mercante, onde ainda serviu um ano. A famosa obra "The Painter"s Room" ("O quarto do pintor"), de 1944, é apresentada na sua primeira exposição, ainda marcadas por uma tendência surrealizante com uma associação e justaposição livre e incomum de pessoas e plantas.

É, precisamente, com esta obra que se abre esta exposição que, tal como o fabuloso catálogo que a acompanha, organiza-se de forma cronológica e em quatro secções que estruturam a atividade do artista por décadas, permitindo-nos compreender também a sua biografia e a forma muito concreta como evolui do dito surrealismo para um neoexpressionismo íntimo e grotesco, influenciado pelos horrores da II Guerra Mundial e por tudo o que revelaram sobre o ser humano.

"Chegar a ser Freud: os anos 1940-1950", "Retratar a Intimidade: 1960-1980", "O poder e a morte: os anos 1970-1990" e "A Arte e o Atelier: os anos 1980-2000" são os capítulos de uma exposição que pretende dar uma nova perspetiva sobre a obra de um autor aclamado. Um dos aspetos mais curiosos da mostra está, precisamente, na secção de retratos, não apenas os conhecidos nus mas retratos também em pose e com justaposições de cenário em que não abandona o automatismo psíquico do surrealismo. Quando começa a pintar retratos, as suas obras ganham textura, rugosidade, personalidade. Tecnicamente, para obter a espessura pretendida, o artista limpava o pincel a cada pincelada, conseguindo o aspeto humedecido da cor.

Lucian Freud pintou uma série de artistas e intelectuais do seu tempo, com os quais privava, como é o caso de Francis Bacon (1909-1992), cujo retrato inacabado está patente nesta exposição. São também conhecidos diversos autorretratos, incluídos alguns deles na seleção de obras desta exposição e que nos revelam a visão que o artista tinha de si mesmo.

Lucian Freud foi, também, professor, entre 1949 e 1954, na Slade School of Fine Art, coincidindo este período com o da frequência, como estudante, da portuguesa Paula Rego (1935-2022), que o tem como referência para a sua própria pintura. Freud conheceu o reconhecimento, tendo ganho, por exemplo, o Prémio Turner em 1989 e tendo visto obras suas atingir valores de milhões em vendas em prestigiados leilões e galerias. É da sua autoria o retrato oficial da rainha Isabel II.

A estória de vida do artista não é isenta de polémicas, sabendo-se que terá tido romances e casamentos com Lorna Garman, com a sua sobrinha Kitty (filha de Jacob Epstein e Kathleen Garman) e com a escritora Lady Caroline Blackwood. Em 2002, um conhecido jornal inglês noticiou que o artista teria cerca de 40 filhos, todos reconhecidos após a maioridade.

A obra de Lucian Freud, tal como a do anglo-irlandês Francis Bacon e de outros que se fizeram artistas na movida londrina do pós II-Guerra Mundial, será a marca da arte de tendência figurativa de um tempo de corte com a noção de belo clássico que a arte mimetizava, propondo que a representação e a sua interpretação fossem mais próximas da realidade do ser comum, também perturbado, também sofredor, imperfeito e com as marcas espacio-temporais da vida.

Enquadrada no ciclo de temporárias de um dos mais importantes museus espanhóis da atualidade, esta exposição, com curadoria de Daniel F. Herrmann (1945), justifica-se, também, pelo elevado número de obras deste artista que já integravam as coleções do Museu Nacional Thyssen-Bornemisza. Escreveu o próprio Lucian Freud, a propósito da sua paixão por museus e por ver obras de outros artistas, que "vou à National Gallery como aquele que vai ao médico pedir ajuda." Ficamo-nos, portanto, com a sugestão de visita e descoberta da obra de um dos mais significativos artistas do nosso tempo, como substituto de um qualquer medicamento.

"Lucian Freud: novas perspetivas"
Museu Nacional Thyssen-Bornemisza (Madrid)
Até 18 de junho

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