observador.ptobservador.pt - 19 mar. 19:24

"Estou embriagada de liberdade." Maria, grávida, foi detida num aeroporto da Argentina. Hoje faz parte do êxodo russo para a América Latina

"Estou embriagada de liberdade." Maria, grávida, foi detida num aeroporto da Argentina. Hoje faz parte do êxodo russo para a América Latina

Seis grávidas impedidas de entrar na Argentina puseram o país a olhar para os milhares de russos que chegam, alguns com o objetivo de que os filhos nasçam argentinos. Imigração fala em máfias.

Maria Konovalova fala inglês com um ligeiro sotaque do Leste europeu. “Quando não tens filhos é perigoso, claro, porque podes ir para a prisão, só porque alguém quer que vás para a prisão. Mas podes mudar-te, tentar fazer alguma coisa. Correr, se for caso disso.” Maria é russa e fala sobre o seu país. Tem 26 anos e está grávida. Chegou à Argentina a 9 de fevereiro, sozinha, longe de imaginar que iria ser notícia em vários jornais. Foi detida pela Imigração no aeroporto, com mais cinco mulheres, mas antes dessa história conta outra, a da guerra e repressão que a levou a deixar o seu país. “Se tens um filho — diz, voltando a falar sobre a Rússia —, o governo tem uma grande forma de te pressionar.” Um dos seus maiores medos, confessou ao Observador, era que lhe tirassem a criança.

Maria é contra a guerra na Ucrânia e faz parte da comunidade LGBT, alvo de severas leis na Rússia. “Não foi uma gravidez planeada. Quando soubemos que estava grávida, percebemos que tínhamos de nos mudar por ser perigoso. Somos poliamorosos, vivemos numa família de três, eu e os meus dois maridos”, partilha a futura mãe, durante uma conversa telefónica. A Argentina, um destino cada vez mais procurado pelos russos, tornou-se também a sua escolha. A sua detenção no aeroporto à chegada, o terem-lhe dito que iria ser expatriada, acabou por ser diferente do que esperava encontrar. Mas nem por isso pensou regressar à Rússia. E da Argentina continua a falar com gratidão.

Em janeiro deste ano, o número de russos que chegaram ao país foi quatro vezes superior ao de janeiro do ano anterior (4.523 versus 1.037). As mulheres, com gravidez avançada, saltam à vista todos os dias nos aeroportos argentinos — Maria estava de 26 semanas, pouco mais de seis meses, quando foi detida. E, todos os dias, nos hospitais nascem crianças argentinas, filhas de pais russos. A lei do país, com uma política de jus solis, assim o dita: quem nasce na Argentina é argentino. Os pais do bebé poderão pedir o visto de residência permanente e o passaporte mais tarde.

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