jornaleconomico.ptFilipe Garcia - 17 mar. 00:14

E de repente tudo mudou… outra vez | O Jornal Económico

E de repente tudo mudou… outra vez | O Jornal Económico

A situação actual irá merecer a atenção redobrada dos reguladores, sendo que já teve o seu primeiro impacto na perspectiva de subidas de juros futuras.

Era uma questão de tempo até as subidas das taxas de juro mais agressivas dos últimos 43 anos começarem a fazer as suas primeiras vítimas: o Silicon Valley Bank (SVB) e o Credit Suisse (CS). Embora por razões diferentes, ambas instituições ditaram o aumento da incerteza dos depositantes e investidores.

Nos EUA, a falência do SBV foi ditada por factores internos, como a completa ausência de gestão de riscos da taxa de juro, e externos, nomeadamente a desvalorização dos investimentos em obrigações do Tesouro americano e a ausência de supervisão pelo regulador.

Após a pandemia, o desenvolvimento do negócio das startups disparou, assim como a atividade do SVB. O aumento dos depósitos, oriundo da captação junto de investidores, foi aplicado em grande parte na dívida do governo americano com maturidade média superior a cinco anos. Ora, a subida dos juros desvalorizou o investimento em obrigações, com consequências ao nível do capital próprio do banco.

Caso o SVB vendesse todo o seu portfolio de dívida, o capital seria negativo, ou seja, não existiria dinheiro suficiente para reembolsar os depositantes. Valeu a rápida intervenção das autoridades americanas, que salvaram os depositantes mas a custo de todos os accionistas e detentores de dívida.

Deste lado do Atlântico, o adiamento das contas do Credit Suisse, o anúncio de descobertas materiais no controlo do reporte financeiro e o facto de os investidores sauditas terem anunciado que não iriam colocar mais dinheiro no banco, foram a gota de água para os investidores.

Após anos e anos de envolvimento em escândalos, como manipulação de moeda, empréstimos secretos a Moçambique, sobre-exposição a fundos de risco e problemas no controlo de branqueamento de capitais, chegou a hora de os depositantes se sentirem inseguros.

Só no último trimestre de 2022, os clientes do CS retiraram 37% dos seus depósitos, ou mais de 140 mil milhões de francos suíços. A sangria de depósitos continua em 2023, mesmo com o plano de reestruturação em curso. É, pois, inevitável que o CS se torne num pequeno banco local, venda as suas operações internacionais e seja reestruturado com o menor impacto possível na confiança no sistema financeiro.

Com a subida dos juros, as perdas potenciais das instituições financeiras atingem os milhares de milhões de euros. Só nos EUA, no fim de 2022, esse montante representava 675 mil milhões de dólares, ou seja, três Silicon Valley Bank!

Uma queda do CS teria um impacto na confiança dos depositantes nas instituições financeiras de menor dimensão, e originaria uma concentração de depósitos nos grandes bancos, aumentando o risco do sistema como um todo. É por isso que a situação actual irá merecer a atenção redobrada dos reguladores, sendo que já teve o seu primeiro impacto na perspectiva de subidas de juros futuras.

Apesar de o Banco Central Europeu ter aumentado a taxa de depósitos em 0,5% para 3%, é agora esperado um pico nos juros a 3,5% que possa iniciar a descida dos juros no começo de 2024. Já a Reserva Federal, após a segunda maior falência de um banco americano, deverá reduzir os juros a partir de setembro de 2023, como forma de combater um sentimento há muito desconhecido – a desconfiança, o pior inimigo da economia.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

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