João Miguel Fernandes - 17 mar. 00:09
O Silicon Valey Bank e a borboleta | O Jornal Económico
O Silicon Valey Bank e a borboleta | O Jornal Económico
O desaparecimento do SVB vem agravar substancialmente a situação do setor tecnológico, que lidava já com o fim dos empréstimos baratos e a diminuição signif ...
É certo e sabido que algumas expressões provocam por vezes o efeito contrário daquele que pretendiam suscitar. Quando Joe Biden veio há dias dizer que os norte-americanos podiam ter confiança e que o sistema bancário é seguro, houve quem temesse que uma situação que começou bem – com um apaziguador comunicado conjunto do Departamento do Tesouro, da Reserva Federal e da Federal Deposit Insurance Corporation assegurando a proteção dos depósitos do Silicon Valey Bank (SVB) – ainda viesse a terminar mal.
Exemplo disso mesmo foi o comportamento da Moody’s noticiado por Maria Teixeira Alves neste mesmo jornal. Ao considerar que a passagem de uma perspetiva estável para uma perspetiva negativa sobre o sistema bancário dos EUA se deve à “rápida deterioração do ambiente operacional após a corrida aos depósitos no Silicon Valley Bank (SVB), Silvergate Bank, e Signature Bank (SNY) e os colapsos do SVB e SNY”, a agência de rating coloca todo um setor debaixo de uma apertada e desconfiada vigilância.
No entretanto, o grande efeito do colapso do SVB que ainda falta medir, como destacou a revista “Wired”, é o golpe que a sua queda inflige às startups europeias. Nas palavras da jornalista especializada Morgan Meaker: “Muitos na indústria de tecnologia da Europa alertam para uma crise mais lenta que está por vir. A razão pela qual o Silicon Valley Bank era tão popular era porque desempenhava um papel único; era parte banco, parte comunidade de networking e parte empresa de capital de risco”.
Na verdade, o desaparecimento do SVB vem agravar substancialmente a situação de um setor, o tecnológico, que lidava já com o fim dos empréstimos baratos e a diminuição significativa dos valores dos investimentos. E por isso continuamos a assistir a um constante movimento de despedimentos por parte das empresas, após mais de 400 mil milhões em valor terem sido eliminados do setor em 2022, ainda de acordo com os dados da “Wired”.
Haver menos capital disponível agrava ainda mais a forma como vários analistas estão preocupados com a possibilidade de a queda do SVB servir de sinal de alerta a outros bancos e estes restringirem o seu financiamento nas tecnológicas. Na verdade, como afirma Berthold Baurek-Karlic, sócio-gerente da empresa de investimentos austríaca Venionaire Capital: “Foram as práticas bancárias do SVB que falharam, não o modelo de negócios de financiamento do setor de startups”.
Os grandes erros na gestão de risco cometidos pelos gestores do SVB não são transitáveis para as restantes instituições e será na minha opinião um erro se a banca fechar portas ao financiamento das TI. Isso teria consequências muito graves para o ecossistema do setor tecnológico, como aliás Baurek-Karlic também avisa.
Recorrendo à conhecida imagem da borboleta e se o simples bater das asas de uma borboleta no Brasil pode gerar um furacão no Texas, como afirmou Lorenz, então devemos trabalhar no sentido de impedir que ela voe. De furacões já estamos nós cheios e a última coisa de que precisamos é que surja mais um. Corrigir os desvios do sistema, sim. Colocá-lo em risco é que não.
Não poderia aqui deixar de enviar os meus sentidos pêsames à família e amigos de Alexandre Patrício Gouveia. A Fundação Batalha de Aljubarrota continuará certamente a honrar a sua memória e a dedicação e entrega do seu fundador, determinado e incansável, não serão esquecidas por todos aqueles que o conheceram.