observador.ptObservador - 28 jan. 00:32

Já não basta o PSD fazer-se de morto

Já não basta o PSD fazer-se de morto

Nos anos 90, Guterres deu um conselho ao então líder do PSD: "Se queres ser primeiro-ministro, a melhor coisa que tens a fazer é fazer de morto". Convém que Montenegro perceba que os tempos mudaram.

Nos longínquos anos 90, Marcelo Rebelo de Sousa tornou-se líder do PSD e uma das primeiras coisas que fez no seu novo fato foi encontrar-se, em São Bento, com o então primeiro-ministro, António Guterres. Foi uma conversa descontraída. Os dois eram velhos amigos e o socialista tinha um conselho fraterno a dar ao recém-chegado. Disse-lhe isto, literalmente: “Ó Marcelo, se queres ser primeiro-ministro, a melhor coisa que tens a fazer é fazer de morto. Porque quem lá estiver na altura em que eu cair substitui-me naturalmente. Se te desgastares muito, corres o risco de não chegares lá”.

Com o tempo, este conselho transformou-se numa lei de ferro da política portuguesa, até porque iria revelar-se certeiramente premonitório: Marcelo não se “fez de morto” e, na altura em que Guterres “caiu”, quem o “substituiu naturalmente” foi Durão Barroso, que, por acaso temporal, ocupava na altura o cargo de presidente do PSD. De então para cá, olhando para essa pedagógica sucessão de acontecimentos, os candidatos a candidatos a primeiro-ministro convenceram-se de que a sua principal missão na Terra é a de, patrioticamente, se fazerem de mortos para conseguirem chegar vivos ao dia da ascensão ao poder.

Luís Montenegro, que parece ser um aluno diligente, empenhou-se em seguir a cartilha guterrista. Até por uma agravante: na última campanha eleitoral, António Costa mostrou mais uma vez a sua antiga habilidade de conseguir que uma parte substancial da campanha fosse ocupada a discutir as propostas, reais ou imaginárias, do PSD — em vez de ser ocupada a debater os erros e as fragilidades do seu governo. E isso contribuiu, sem dúvida nenhuma, para a maioria absoluta do PS. Por tudo isto, desde que conquistou a liderança do partido, Montenegro tem tido um especial empenho em não apresentar qualquer proposta, seja sobre que tema for. Aeroporto? O governo que decida. Cortes nas pensões? O governo que justifique. TAP? O governo que se desenvencilhe.

O problema para Luís Montenegro é que já não estamos nos anos 90 — nessa altura, com dois partidos a alternarem-se confortavelmente no poder, era, de facto, suficiente o líder do PSD fazer-se de morto. Mas, hoje em dia, com dois novos partidos à direita, o líder do PSD é obrigado a mostrar que tem sangue a correr nas veias.

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