Faz sete anos que Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito Presidente da República. E se a primeira fase foi a dos afectos e só colo à geringonça, agora entra-se num caminho que é uma incógnita total, face ao desmoronamento, como um castelo de cartas, de um Governo com apenas dez meses de exercício. E isso ninguém esperava.

Conquistar uma maioria absoluta é um feito hercúleo, pois elas estão, como os rinocerontes, em vias de extinção. E logo com esse resultado em Janeiro de 2022 se criaram duas condicionantes: no PSD e em Belém. No primeiro caso, a partir do arraso a Rui Rio nas urnas, sentiu-se que, com a dita maioria absoluta, o partido entraria num novo e longo jejum de poder.

Escolheu-se o candidato que, aparentemente, faria melhor oposição num horizonte de quatro anos e aqueles que terão outro peso para o futuro no PSD evitaram o desgaste, dando palco a Luís Montenegro que tinha sido um bom líder parlamentar. Só que está visto que os sociais-democratas terão de acelerar na construção de uma alternativa credível e na afirmação de uma liderança forte (o actual líder ou outro), porque o Governo poderá não aguentar a legislatura.

No segundo caso, com o segundo resultado maior de sempre do PS, antevia-se que o papel do Presidente da República fosse muito apagado e que Marcelo Rebelo de Sousa se constituísse como um mero fiscalizador da tentação de abusos de poder da nova maioria, tendo intervenção muito reduzida na política interna e sendo a política externa a sua arena privilegiada. Ora, não será assim.

O avolumar de diversos casos, uma indemnização pornográfica a Alexandra Reis, a queda de um peso-pesado do Governo como Pedro Nuno Santos (que ainda acrescentou uma medalha de incompetência ao seu currículo com o comunicado em que reconhece que foi avisado da indemnização – e mais grave – a aprovou), bem como Fernando Medina e João Gomes Cravinho encostados às cordas, trouxeram a necessidade institucional de um novo ponto de equilíbrio do regime.

Esse novo ponto terá de emergir de Belém e servir – em comunhão com António Costa – para a estabilidade governativa num ano imperativamente decisivo, em que se têm de tomar, e executar, decisões estratégicas para o futuro de Portugal.

Marcelo tem um estilo próprio e nunca enganou ninguém quanto a isso. Comenta, fala, sorri e também dispara, mas convém que reveja o excesso de aparições e intervenções, para não dar a impressão que, cada vez que surge, lá vem uma bicada ao Governo. Que vem suave, quase ingénua, mas soa como requintada malícia o que desgasta o próprio e o Executivo de maneira inexorável.

Mais recato, menos comentários, a mesma solidariedade institucional. Não precisa de ser uma figura de cera – como Cavaco Silva no final do seu mandato em Belém – distante da realidade e dos portugueses. Mas os passos finais do seu segundo mandato têm de ser robustecidos de granito e não de plasticina, que é mole e viscosa.

E isso só depende da opção a seguir por Marcelo Rebelo de Sousa que não será, de todo, um mero figurante e corta-fitas. Será o seu tempo.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia. The post O tempo de Marcelo first appeared on O Jornal Económico .