Talvez estejamos em vias de passar a ter revisões em alta das previsões económicas, ao contrário do que até aqui, e as previsões do FMI da próxima semana ajudarão a clarificar este ponto.

Entretanto, o encontro de Davos deste ano teve como tema geral “Cooperação num mundo fragmentado”. Porquê falar em mundo fragmentado? A crise de 2008-2009 colocou em causa a superioridade do modelo económico ocidental, com recuo ou estagnação da globalização. A bem dizer, isto é mais verdade no caso dos bens do que dos serviços, mas não deixa de ser verdade que o optimismo sobre a expansão indefinida do comércio livre se esfumou.

Seguiu-se-lhe a pandemia, que alertou para o risco excessivo de dependências externas: dependência de bens, de componentes, incluindo em componentes básicas na saúde. É sobretudo uma dependência da China, a “fábrica do mundo”, onde se iniciou a crise do covid, o que reforçou a tendência da reindustrialização, de que já havia sinais anteriores, quer públicos quer privados.

Finalmente, a invasão da Ucrânia pela Rússia alertou para dependência energética, sobretudo da Rússia, mas também alimentar, já que os russos são grandes produtores de bens alimentares, fertilizantes e de elementos básicos dos fertilizantes, como o potássio e o sódio.

Porquê a necessidade de cooperação? Porque há muitos problemas que são globais na sua essência e só podem ser resolvidos em conjunto, como é o caso das alterações climáticas, da transição energética, da pandemia, dos fluxos migratórios, entre outros.

O pacote “verde” norte-americano (“Inflation Reduction Act”), supostamente para reduzir a inflação, contém inúmeros subsídios à transição energética neste país, tendo sido acusado de ser proteccionista. É muito importante que a resposta europeia seja contida e razoável, porque os EUA e a União Europeia são os maiores defensores do comércio livre (a China apenas o aproveita), pelo que, se estes dois blocos entrarem numa escalada proteccionista, isso será trágico para a economia mundial.

Entre meados do século XIX até ao início da I Guerra Mundial tivemos um período de globalização, que foi interrompido por uma escalada proteccionista até à II Guerra Mundial, que foi muito prejudicial. Já cometemos este erro no passado, pelo que não há desculpa em repeti-lo, para além de que precisamos da maior boa vontade, sobretudo entre aliados naturais, para lidar com os difíceis desafios com que a humanidade se defronta.

Estamos perante uma policrise – palavra do ano de 2022, segundo o “Financial Times” – e se dois dos elementos principais do Ocidente não conseguem cooperar, muito menos se pode esperar do resto do globo.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia. The post Policrise testa Ocidente first appeared on O Jornal Económico .