observador.pt - 26 jan. 06:30
"Amadeo": um pintor à procura de uma interpretação
"Amadeo": um pintor à procura de uma interpretação
Em "Amadeo", Vicente Alves do Ó vira a sua câmara para o pintor Amadeo de Souza-Cardoso. Mas falta ao filme um ponto de vista e uma decifração do biografado. Eurico de Barros dá-lhe duas estrelas.
O pintor modernista português Amadeo de Souza-Cardoso morreu prematuramente, apenas com 30 anos, em 1918, vítima da gripe pneumónica, ou “gripe espanhola”, como ficou conhecida. E se há alguma coisa que pesa em “Amadeo”, o filme de Vicente Alves do Ó sobre o artista, é precisamente o fantasma desta doença. A parte final da fita é toda ela preenchida, longa, soturna e arrastadamente, com os padecimentos dos familiares de Amadeo quando foram atingidos pela pneumónica na casa de praia que tinham em Espinho, ao som de um sino que toca a finados e que acaba por se tornar tão insistente e repetitivo como o sofrimento das personagens.
Ao contrário dos dois filmes anteriores de Alves do Ó dedicados a artistas portugueses, “Florbela” (2012), sobre Florbela Espanca, e “Al Berto” (2017), que conta a história do poeta Al Berto até ter rumado a Lisboa, “Amadeo” tem pouco de concreto a dizer sobre o seu biografado. Além da agitada vida pessoal e sentimental da autora de “Charneca em Flor”, “Florbela” falava do conflito entre o apelo da escrita e a vontade que ela tinha de viver uma vida segundo os padrões da sociedade da época; e “Al Berto” desvendava a existência do poeta e pintor antes de instalar na capital, e se tornar conhecido no seu meio cultural, literário e boémio. “Amadeo” é restrito na vida e parco de informação e decifração. Se não se pedia propriamente didatismo escolar, coca-bichinhice biográfica ou dissertação teórica, que houvesse ao menos um arrimo narrativo ou um ponto de vista percetível sobre Amadeo de Souza-Cardoso e a sua obra.
[Veja o “trailer” de “Amadeo”:]
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