visao.sapo.ptMAFALDA ANJOS - 26 jan. 16:20

Visão | Jornadas Mundiais da Juventude: "Se Cristo descesse à Terra e visse este altar-palco, expulsava os vendilhões do templo"

Visão | Jornadas Mundiais da Juventude: "Se Cristo descesse à Terra e visse este altar-palco, expulsava os vendilhões do templo"

O polémico palco das Jornadas Mundiais da Juventude esteve em análise, bem como o estado de pouca graça do Governo. Com direito a apostas do painel de olheiros: a probabilidade deste executivo durar os quatro anos oscila apenas entre 10 e 50%

Mais uma semana, mais casos, casinhos e casões a atormentar a estabilidade política nacional. “E também um evidente problema de amnésia geral no Governo. Nem Pedro Nuno Santos e a sua equipa não se lembravam que tinham sido informados como também aprovado a indemnização de Alexandra Reis, nem João Gomes Cravinho se lembrava de que foi informado e nada fez sobre o aumento brutal de custo das obras do Hospital militar de Belém”, enquadra Mafalda Anjos no Olho Vivo desta semana.

“Agora, sim, já podemos acreditar em Pedro Nuno Santos, quando ele diz que aprovou a indemnização a Alexandra Reis. No que não acreditamos é que só se tenha lembrado agora. Era impossível não se ter recordado de um facto tão recente, durante aqueles dias de crise que, aliás, levaram à sua demissão. Faz isto agora para se antecipar a uma comissão de inquérito parlamentar que há de ouvir o seu ex-secretário de Estado e outros responsáveis e que  iria demonstrar que essa autorização foi dada por ele”, comenta Filipe Luís.

“Havia demasiadas histórias mal contadas, e versões claramente insustentáveis. Tentar tomar as pessoas por parvas acaba sempre por rebentar nas mãos de quem o faz”, diz Mafalda Anjos.

Entre a quantidade de casos das últimas semanas, Nuno Aguiar considera que há mais clareza na situação de Pedro Nuno Santos e que permite desconfiar da intuição política do ex-ministro. “Devemos acreditar que não se lembrava? A imagem que fica é de um político que, num primeiro momento, se tentou agarrar ao lugar.”

“Há uma cadência imparável que arrasta este governo para uma fogueira onde está a ser cozido em lume cada vez menos brando. Não é possível sobreviver a este ritmo de tantos casos, casinhos e casões, sente-se um agastamento geral. E assim não há maioria absoluta que valha. A tolerância de Marcelo Rebelo de Sousa não será eterna”, diz Mafalda Anjos. “Neste momento, a hipótese deste governo durar quatro anos diria que é de uns escassos 10%, os do benefício da dúvida”, arrisca.

Nuno Aguiar e Filipe Luís aceitaram entrar no jogo de apostas. “Dou 45% de probabilidades de o Governo acabar a legislatura”, diz o primeiro. Filipe Luís está menos pessimista: “Apesar das dificuldades e da convicção de que isto não vai durar, eu não seria tão perentório. É ‘fifty fifty’: o Governo tem 50% de probabilidades de resistir todo o mandato”.

“O Governo exilou-se, esta quarta e quinta-feiras, em Castelo Branco, para um ato de desecentralização e continuação do roteiro do PRR. É uma clara mensagem de António Costa: “Fiquem aí na bolha, que nós cá estamos a resolver os problemas do País real!” Esta vai ser a postura política dos próximos tempos. Pode resultar. E Marcelo não quer mesmo dissolver o parlamento”, diz o editor de política da VISÃO.

“De polémica em polémica, os extremos engrossam, como seria previsível neste cenário. São os beneficiários líquidos desta desilusão com o Governo e o centrão. As sondagens mostram um crescimento da Direita nas intenções de voto, com o PSD a posicionar-se à frente do PS e sobretudo o Chega a aumentar para 14%”, sublinha a diretora da VISÃO, que destaca: “Marcelo Rebelo de Sousa também está debaixo de fogo, com a sua popularidade em mínimos. Está entre a espada e a parede – já não se pode colocar debaixo do mesmo guarda-chuva e proteger o Governo, mas percebe que não tem condições, nem do lado da oposição, para dissolver a Assembleia”.

Já Nuno Aguiar entende que “devemos relativizar estas sondagens”. “Não só porque não há sinais de que haja eleições no curto prazo, como estes resultados – com PS a cair sem beneficiar o PSD – estão mortos assim que saem, porque influenciam a dinâmica da campanha”, afirma.

Outro tema em análise foi a polémica com os gastos do altar-palco das Jornadas Mundiais da Juventude. “Podemos debater se devíamos ou não receber a JMJ, mas, a partir do momento em que as recebemos, deve ser feito com alguma ambição. Não podemos querer um grande evento sem gastar dinheiro”, aponta Nuno Aguiar. “Podemos é discutir se não era possível ter um plano que permitisse alavancar outras iniciativas. A JMJ teve falta de planeamento, como se comprova pelo recursos a ajustes diretos. Carlos Moedas já só fala neste evento como tentando não beliscar a imagem de Portugal. Há também falta de transparência. Quanto vai custar a todas as entidades envolvidas? Qual o envolvimento da Igreja?

Mais de um milhão de pessoas vindas de fora ao mesmo tempo é o equivalente à chegada dos retornados em 1975, e tudo concentrado numa semana, sublinha Filipe Luís. “São necessárias estruturas. Além do mais, este evento vai dar um retorno económico que dá para pagar todas estas despesas e mais algumas e ainda ter lucro. Não é isso que está em causa. O problema é a fala de transparência.  o fausto escusado. O próprio Papa Francisco, frugal e avesso à ostentação, há de sentir-se incomodado. E Cristo, se descesse à Terra, viria munido do seu chicote para voltar a expulsar os vendilhões do templo”, afirma.

Mafalda Anjos vê aqui potencial para um caso polémico que se avolumar. “Esta parte da obra estava a cargo da Câmara Municipal de Lisboa e da SRU e Carlos Moedas vai ter de explicar como é que uma estrutura passa de um custo estimado de 3 milhões para 4,2 milhões, mas com fundações e outros detalhes, escala para mais de 6 milhões. Temos aqui mais um caso tipo Hospital Militar de Belém, mas ao nível autárquico. E que, além do mais, vai contra todo o espírito do evento”, afirma.

Debaixo de olho nesta edição estiveram também os temas da nova liderança da Iniciativa Liberal, os novos indicadores económicos que mostram nuvens menos negras no horizonte e a resposta do Primeiro-Ministro a um editorial da VISÃO.

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