Só quem nunca se trilhou no fecho-éclair da carcela, deu uma topada com o dedo mindinho numa mesa ou tentou pedir um cartão do cidadão pode acreditar que as palavras são o que mais magoa. As palavras agridem, sim, mas podemos sempre ripostar, algo impossível perante uma carcela, uma mesa ou a incompetência de serviços públicos. E se podemos apostar em braguilhas com botões ou forrar a mobília com esponja, face ao inferno da burocracia estamos indefesos. Online, o sistema falhou sempre. Telefonicamente, a linha de apoio não pôde apoiar. Presencialmente, entre greves, senhas esgotadas de madrugada e uma responsável de loja do cidadão que merecia o prémio para o melhor "quero lá saber" do ano, o processo não teve melhor desfecho. As palavras não são o que mais magoa. Mas às vezes apetece mesmo gritar umas "pedradas".