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Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

Ou o alerta da ″Great Resignation″ para o mercado de trabalho.

Ou o alerta da "Great Resignation" para o mercado de trabalho.

Já deve ter ouvido falar no fenómeno "Great Resignation". Este foi uma das mais fortes repercussões da Covid-19 com efeito no mercado de trabalho e incidência sobretudo nos Estados Unidos. Surpreendeu pelo despedimento de milhões de trabalhadores, por iniciativa própria, apesar das profundas incertezas económicas que a pandemia provocou.

Ainda que o seu impacto não seja tão sentido em Portugal, a "Great Resignation" é uma chamada de atenção para os empregadores, alertando para as mudanças de prioridades dos colaboradores. De acordo com um estudo realizado pelo Pew Research Center entre 7 e 13 de fevereiro de 2022, 43% dos trabalhadores dos Estados Unidos que deixaram os seus empregos em 2021 apontaram a "falta de benefícios para uma maior qualidade de vida" como uma das razões que os levou à resignação. Lá se vão os tempos em que o salário era a única preocupação. Hoje, verifica-se uma maior exigência de oferta de benefícios para um dia-a-dia laboral mais satisfatório, sendo a saúde e um bom equilíbrio entre as vidas profissional e pessoal as principais prioridades.

Atentas à mudança de mindset dos trabalhadores - e da sociedade em geral -, muitas empresas têm apostado em programas de nutrição e alimentação saudável para os seus colaboradores. Por beneficiar a saúde física e mental dos trabalhadores, a medida tem-se revelado extremamente útil para empregadores, já que uma dieta equilibrada promove o aumento da energia e da capacidade de foco, ajudando a reduzir picos que podem levar à fadiga e a alterações de humor. Ao mesmo tempo, a adoção de programas de nutrição permite aumentar o sentimento de pertença dos colaboradores, promovendo a troca de experiências e ideias entre si. Faz com que o corpo laboral se sinta mais valorizado e apreciado pelos seus superiores.

Segundo um estudo do Center for Disease Control and Prevention (CDC), mais de 75% dos colaboradores que têm bons benefícios relacionados com a saúde relatam uma alta satisfação no trabalho. E, atualmente, seis em cada dez trabalhadores indicam a oferta de regalias relacionadas com o bem-estar como uma prioridade durante a procura de trabalho (de acordo com dados do Bureau of Labor Statistics).

Assim, a aposta na nutrição vem desbloquear uma maior acessibilidade à medicina preventiva, cultivando o bem-estar, a curto e longo prazos, tanto para indivíduos como para o corpo coletivo. E, com a pandemia, tornou-se ainda mais essencial as empresas agirem sobre esta área. Uma série de estudos académicos mostra que mais de 40% das pessoas afirma ter hábitos alimentares mais pobres quando trabalham a partir de casa, assim como níveis mais altos de sedentarismo*.

No combate a estilos de vida sedentários, a oferta de inscrição em ginásios, a organização de aulas de diferentes modalidades na própria empresa ou a criação de clubes de corrida estão entre as mais comuns medidas de promoção do bem-estar laboral nos dias de hoje. Nestes casos, a oferta de programas de alimentação traz um complemento importante, pois agrega as dimensões de saúde física e mental.

Sabemos que os hábitos alimentares inadequados estão entre os fatores de risco associados a doenças crónicas como diabetes tipo 2, hipertensão arterial e obesidade, que estão associadas à diminuição do nível de desempenho no trabalho, motivação, satisfação e saúde do colaborador. Lembremo-nos que, em Portugal, 5,9 milhões de portugueses têm excesso de peso e mais de um terço da população portuguesa é hipertensa. Os problemas cardíacos são uma das maiores causas de mortalidade em Portugal todos os anos.

Em termos económicos, a adoção de programas de bem-estar leva a poupanças para as empresas - logo no primeiro ano - e melhora a sua atratividade, segundo investigadores da Universidade de Harvard. Vejamos: uma equipa de 50 pessoas a auferir o salário médio em Portugal perde mais 150.000 euros, anualmente, devido a maus hábitos alimentares. Os maus hábitos alimentares podem afetar a produtividade de uma equipa em até 20%. Num sentido mais lato, em termos de economia nacional, as doenças crónicas aumentam o absentismo laboral e os encargos com a saúde.

A insatisfação laboral está direta e indiretamente ligada a um conjunto de problemas, como o burnout, a depressão, o cansaço extremo e a desconexão do dia-a-dia, por exemplo, que afetam as relações interpessoais dos colaboradores, sejam elas com colegas ou com família e amigos. Estes acontecimentos são cada vez mais uma realidade que as empresas enfrentam e à qual devem reagir. Os tempos estão a mudar e exigem um novo olhar sobre o mercado de trabalho, que tem que partir não só da iniciativa privada mas, também, do Governo, através de um plano concertado para a saúde e bem-estar da força laboral.

Manuela Abreu, diretora do departamento de nutrição na Nutrium

*Fonte: Health Behaviors and Associated Feelings of Remote Workers During the COVID-19 Pandemic (Białek-Dratwa et al., 2022); REACT-COVID 2.0 (DGS, 2021).

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