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Não é o fim nem o princípio

Não é o fim nem o princípio

Os sinos dobram pela maioria de Esquerda. Uma solução política nunca antes experimentada que, graças a um momento de inspiração mordaz de Paulo Portas, ficará na história como "geringonça". Na verdade, funcionou por bastante mais tempo e com bastante mais harmonia do que previa o padrinho de batismo. Mas, em política, todos os ciclos se esgotam. Para uns, demasiado cedo. Para outros, demasiado tarde.

Haverá quem lamente o fim do frágil acordo que mantinha o Governo inclinado para a Esquerda. Haverá quem o festeje, em particular mais para a Direita do espectro político (incluindo alguns socialistas). Certo é que os portugueses, os que ficam desiludidos e os que ficam aliviados, não vão certamente premiar os responsáveis.

Mesmo sendo difícil perceber, nesta altura, para onde conduzirão as dinâmicas políticas, é aceitável admitir, sem especular em demasia, que entre PS, PCP e Bloco, algum (porventura todos) pagará o preço, no mercado eleitoral. A Esquerda sairá provavelmente mais frágil das próximas eleições legislativas, mas a ameaça será maior para comunistas e bloquistas. São alvos fáceis. Porque vão chumbar precisamente o Orçamento do Estado em que o PS mais cedeu aos seus pedidos. Não é opinião, é facto.

A desilusão e o alívio não serão suficientes, no entanto, para conduzir o PSD ao poder. Aos entusiastas de uma nova maioria, agora à Direita, convém lembrar que, na pura aritmética dos votos, a soma de PSD e CDS deu um pior resultado nas últimas autárquicas do que em 2017 (menos meio ponto percentual). E é provável que tenham de contar com dois novos parceiros, mais ou menos recomendáveis, liberais e radicais. Não são favas contadas, e ainda menos se tivermos em conta que a luta entre Rui Rio e Paulo Rangel pela liderança será longa (ainda falta mais de um mês) e provavelmente sangrenta. Não é um problema de tempo, é de modo.

Ainda assim, e para que não pareça (aos de Esquerda e aos de Direita) que o diabo vem aí, só porque uma democracia consolidada e adulta vai para eleições, apetece usar o título de um livro de poesia de Manuel António Pina: "Ainda não é o fim nem o princípio do Mundo calma é apenas um pouco tarde".

Diretor-adjunto

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