jn.pt - 27 set. 01:00
O dia depois de amanhã
O dia depois de amanhã
As eleições autárquicas já pertencem ao passado. É tempo de voltar a prestar atenção ao Mundo que, entretanto, não parou de girar. Os próximos tempos podem revestir-se de uma complexidade especialmente desafiante nos planos político, económico e social.
Na Alemanha, há uma mudança de atores, ainda é cedo para saber o que significa a saída de Angela Merkel, e o que isso pode representar para Portugal. No entanto, sabemos que qualquer mudança de posição relativamente à nova crise de refugiados, ou uma mudança de política económica e financeira, trará consequências para a economia portuguesa. Em termos de política interna, o foco passará a ser o OE, pese embora tenha a sua aprovação praticamente garantida, e a redefinição dos atores políticos à Direita.
Em termos económicos, o PRR promete trazer uma disponibilidade financeira, sobretudo para investimentos públicos. O efeito na economia será direto e visível nos números do crescimento económico, sobretudo se comparados com a evolução dos últimos dois anos. Porém, os alertas são cada vez mais sonoros relativamente ao risco latente de não haver uma mudança estrutural ao nosso modelo económico. Facilmente podemos regressar a taxas de crescimento que nos afastam do ritmo de convergência com a U.E. Junta-se a isto o cenário, cada vez mais provável, do aumento das taxas de juro, em virtude de uma mudança de política por parte do Banco Central Europeu. O número de famílias afetadas pela perda de rendimento e os números do desemprego criam as condições para uma grave crise social. Em cima deste cenário, ainda temos de acrescentar o fim das moratórias que pode pôr a nu algumas fragilidades entretanto disfarçadas.
Mais do que nunca, as nossas instituições têm de funcionar corretamente. Caso contrário, corremos o risco de voltar a passar ao lado de uma oportunidade. Precisamos de mais rigor, mais escrutínio, mais transparência e maior responsabilização.
*Professor da Universidade do Minho