observador.ptObservador - 31 jul. 00:00

Meu caro Francisco

Meu caro Francisco

Escrevo-te publicamente para deixar claro que não sou teu opositor. O balanço far-se-á no próximo congresso. Penso ser maior prova de lealdade uma crítica frontal e aberta do que calar a minha opinião

Meu caro Francisco Rodrigues dos Santos, como sabes não te apoiei no último congresso, onde foste eleito presidente do CDS. Como também sabes, defendi que o Filipe Lobo d’Ávila devia aceitar o teu convite para a direcção, decisão que não lamento. A tua moção foi a mais votada, o partido precisava (e precisa) de paz, e o país precisava de um CDS forte. Também testemunhei o teu esforço logo em Aveiro de tentar unir o partido, convidando os teus opositores para a direcção. Lamentavelmente, a campanha para a presidência do partido abriu feridas que não permitiram uma maior unidade.

Infelizmente vejo que desde Janeiro de 2020 o CDS se encontra cada vez mais dividido. Hoje parece que só somos notícia pelas constantes lutas internas, com ataques e acusações a virem a público todas as semanas.

Este clima tem vários culpado, de todos os lados da barricada. Como disse, a luta pela presidência abriu feridas que não fecham. Mas sendo tu presidente do CDS, legitimamente eleito pelo Congresso, é a ti que te cabe sarar essas feridas. E mesmo que não seja por culpa tua, a verdade é que isso não foi feito, mas é urgente.

E não ajuda nada ver recorrentemente artigos de opinião de membros dos órgãos nacionais do CDS, teus apoiantes, num constante ataque a todos os que discordam da direcção. Artigos que batem sempre na mesma tecla: insultos e ataques às anteriores direcções. O que é estranho se considerarmos que muitos dos que agora escrevem cobras e lagartos de Assunção Cristas nunca levantaram a voz enquanto ela lhes garantiu cargos. É no mínimo irónico, por exemplo, ler deputadas municipais que o são por causa da Assunção, lembrarem-se agora que afinal sempre estiveram contra ela.

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Mas o mais grave não é isto. Não tens culpa que alguns sicofantas te tenham decidido apoiar. Acontece a qualquer direcção ter entre os seus apoiantes aqueles que vão para onde o vento sopra. O problema meu caro, é que este oportunismo parece ser recompensado. Como se viu recentemente em Lisboa, onde, por decisão da direcção nacional, o critério para a escolha das listas à Câmara parece não ser o trabalho autárquico realizado, mas sim a capacidade de dizer mal de quem nos garantiu o melhor resultado na Capital.

Sei bem que não tens tido um mandato fácil e acredito que é duro estar constantemente sobre ataque e que por isso seja tentador procurar apoio em quem aparentemente te apoia. Mas trocar a competência pela anuência tem como efeito que aqueles que estão na política para se servir acabem promovidos pelos simples facto de assinarem artigos hagiográficos sobre ti. Ao mesmo tempo, aqueles que estão na política para servir acabarão afastados simplesmente por manterem a sua liberdade.

Meu caro Francisco, permite-me um conselho: cuidado com aqueles que enquanto Assunção Cristas lhes garantiu um bom resultado a apoiavam e que tendo ela caído a atacam. Por muito que digam que tu és a pessoa que mais admiram, é provável que essa admiração acabe no dia em que alguém lhes ofereça passarem de deputada municipal a vereadora ou de vereador a deputado. Nessa altura é provável que a admiração que dizem sentir por ti se transfira, e para ti sobre o ódio que agora nutrem por Assunção Cristas.

Escrevo-te estas palavras publicamente para deixar claro que não sou teu opositor. O balanço será feito no próximo congresso. E penso que é maior prova de lealdade uma critica frontal e aberta do que calar a minha opinião na esperança de um qualquer lugar.

Conta comigo para continuar a lutar pelos ideais que temos em comum e pelos quais já lutamos tantas vezes juntos: o personalismo, a defesa da dignidade da Vida Humana, a Liberdade de Educação, a defesa dos mais frágeis. E por isso continuarei empenhado na campanha autárquica de Lisboa (onde em boa hora decidiste apoiar Carlos Moedas, um óptimo candidato), para defender as nossas propostas: creches para todas as crianças, apoio aos idosos, incentivos para as família, a defesa da economia azul. Ou seja, o património do CDS que é nosso e de todos.

Meu caro Francisco, não contes comigo para qualquer forma de bajulação, o que seria indigno para mim e para ti. Mas estarei sempre disponível para trabalhar para o bem do CDS e de Portugal.

Jurista

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