ionline.sapo.ptVítor Rainho - 14 abr. 09:12

O Nobel da irresponsabilidade epidemiológica

O Nobel da irresponsabilidade epidemiológica

Pessoas incompetentes decidem juntar centenas de clientes sem qualquer necessidade. Alguém algum dia irá responsabilizar o autor de tal barbaridade? Alguma vez tal criatura foi à Feira do Relógio para perceber o enorme disparate que fez?

Todos os domingos, sempre que posso, tenho o ritual de ir à Feira do Relógio comprar legumes na melhor banca da cidade, onde também levo uns magníficos ovos caseiros. A frescura e o preço são quase perfeitos e o encontro com a Cristina, a agricultora amiga, são o tónico para um belo domingo. Também passo por uma banca de fruta onde escolho sempre maçãs com sabor a maçãs e não aquelas coisas muito bonitas dos hipermercados que têm um sabor a coisa nenhuma. Na feira, havia todo um outro mundo em que há muitos, mas mesmo muitos, anos não penetrava. Roupa, ténis de marca falsificados, quinquilharia, detergentes, cortinados, etc. Não é para isso que me levanto a um domingo.

Pois bem, no último domingo descobri que há um génio na Câmara Municipal de Lisboa que, em plena crise pandémica, decidiu que eu e muitos outros teremos que penetrar nesse fantástico mundo da roupa de feira para podermos comprar os legumes. Até há uma semana, eu chegava, descia as escadas ao pé das traseiras da RTP, andava poucos metros e comprava o que tinha a comprar. Cruzava-me com umas dezenas de pessoas e ia-me embora. Agora, não. Preciso de fazer uma centena de metros, ou mais, penetrar na zona da roupa, onde alguns comerciantes não usam máscara, e em que as bancas estão mais próximas do que em qualquer outra zona da feira.

A área das comidas, frutas e legumes foi separada em dois, e centenas de pessoas têm de se cruzar – quase cara-a-cara – com outras centenas por causa do tal génio, que colocou os feirantes das roupas entre as duas zonas de frutas e legumes. Penso que este é um belo retrato de como o desconfinamento tem tudo para dar errado. Ao pé do forrobodó desta feira, as esplanadas são os lugares mais seguros do mundo.

E, já agora, saberá Fernando Medina, por exemplo, que à entrada da Feira do Monte Abraão, Sintra, os clientes medem a temperatura e alguém conta o número de pessoas para não se ultrapassar a lotação? Será que o génio que Medina tem na CML quererá ganhar o Nobel da irresponsabilidade epidemiológica? Talvez...

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