visao.sapo.ptsvicente - 24 jan. 19:37

Visão | Umas Presidenciais diferentes

Visão | Umas Presidenciais diferentes

Marcelo será o mais prejudicado pela abstenção e pela luta pelo 2º lugar entre esquerda e (extrema) direita

A pandemia torna as presidenciais de domingo diferentes de todas as anteriores, com uma previsível enorme abstenção. Mas a legitimidade do Presidente da República eleito é a mesma, qualquer que seja a abstenção. Já a força política, até subjetiva, para exercer o seu poder moderador e influenciador, pode ser maior ou menor, embora o mais importante esteja na posterior capacidade e qualidade de intervenção. Isto dito, uma sintética “visão” da prestação dos candidatos e possíveis resultados.

VITORINO SILVA Mantém-se o mesmo Tino de Rans… Como não faz sombra a ninguém, é o mais bem tratado por todos − e não representando o “povo”, como pretende, representa o “Zé Povinho”. Entre frases às vezes desconexas, verdadeiros achados como o das pedras de várias cores mostradas ao chefe do Chega.

MAYAN GONÇALVES Foi o que mais subiu face às diminutas expectativas de partida. E soube afirmar-se e distinguir-se perante Ventura. Também repetitivo, equilibrou com eficácia um modo discreto de estar e firme de defender as suas posições, algumas com óbvia falta de fundamento.

JOÃO FERREIRA Mostrou preparação, segurança, serenidade. Consegue transmitir simpatia, mas sem sombra de carisma ou inventiva. Sempre muito previsível, repetiu de mais o “cumprir e fazer cumprir a Constituição”. O candidato certo para fixar o eleitorado do PCP e algum que lhe esteja mais próximo.

MARISA MATIAS Começou mal, nos debates televisivos, principal vítima, com Ana Gomes, da passividade, incompetência ou conivência de “moderadores” perante constantes interrupções e golpes baixos de Ventura. Foi sempre melhorando, com conhecimento aliado a comunicabilidade, firmeza e moderação de posições. E a solidariedade no caso do batom vermelho fez com que tivesse o melhor “final” de campanha possível.

ANDRÉ VENTURA As expectativas já eram as piores − e mesmo assim conseguiu ultrapassá-las… Com insultos, falsidades, desrespeito pelos outros e por valores básicos da democracia. Com traquejo televisivo em programas dados à arruaça e aos golpes baixos, utilizou-os com grande proveito, como quis, como escrevi no site da VISÃO. Depois houve debates mais decentes, mas o mal estava feito e a “agenda” marcada. E, sem olhar a meios, incluindo jantares/comícios violando as regras sanitárias, é uma incógnita o que aí vem.

ANA GOMES Principal “novidade” destas eleições, esteve em geral bem, mas sem o brilho distintivo que lhe assegure uma votação à altura do seu percurso e da sua ação cívica. Conseguiu adequar o tom das suas denúncias sem perder, em geral, acutilância. Mas errou na insistência e na forma das críticas ao Presidente Marcelo − seu “principal adversário”, disse. Ora, se tal faria sentido numa segunda volta entre os dois, na primeira não faz e equivale a uma desfocagem, pelo menos tática.

MARCELO REBELO DE SOUSA Uma não campanha, de quem não precisa dela. De salientar, porém, a sua disponibilidade para entrevistas e todos os debates, a forma como tratou os outros candidatos, os elogios a Marisa e a Ana Gomes. Sem ser um debatedor excecional, esteve sempre bem − e ainda com a vantagem de, atacado à esquerda e à direita, poder realçar que isso resulta da sua posição de indispensável equilíbrio, de não ser de um “lado” mas o Presidente de todos os portugueses.

E OS RESULTADOS? Neste quadro, simples impressões e não previsões, julgo que: 1) A elevada abstenção prejudicará Marcelo, como “preferido” dos cidadãos comuns que não irão votar, e favorecerá João Ferreira, por o PCP ter o eleitorado mais militante; 2) Marcelo será ainda prejudicado por, tida como certa a sua vitória, muitos votarem − para fortalecer a esquerda ou a direita −, no mais previsível segundo dessa área, embora o queiram a ele para Presidente; 3) Nesta linha, Ana Gomes será favorecida, por Ventura ter proclamado que se ela ficar à sua frente se demite.

Concluindo, creio que Marcelo será eleito à primeira volta, mas com uma percentagem bem inferior à antes prevista. Ana Gomes ficará muito acima dos 4,24% da socialista Maria de Belém em 2016, mas com menos do que os 22,88% de António Nóvoa. Marisa não chegará aos anteriores 10,12%, dada a candidatura de AG e a posição do BE face ao OE. João Ferreira deve ultrapassar bastante os 3,95% de Edgar Silva, e Mayan Gonçalves os 1,29% da IL nas legislativas. Vitorino Silva ficará abaixo dos 3,28% e Ventura constitui a maior incógnita, podendo a linha dos dois dígitos assinalar a diferença entre sucesso e insucesso.

(Opinião publicada na VISÃO 1455 de 21 de janeiro)

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