expresso.ptJoão Talone - 26 out. 10:18

Estratégia com Execução e uma liderança adequada para o futuro de Portugal

Estratégia com Execução e uma liderança adequada para o futuro de Portugal

Até ao início de novembro, o Expresso, em parceria com o The Lisbon MBA Católica|Nova, publica vários contributos para ajudar a relançar o país no período do pós-pandemia, no âmbito económico, social e ambiental. O projeto ReImaginar Portugal, promovido pelo Alumni Club, foi lançado pelo The Lisbon MBA para promover, numa só plataforma, um debate público sobre o nosso futuro. Não perca, no próximo dia 2 de novembro, a conferência que marcará uma nova fase desta iniciativa, convidando para o debate vários CEO, gestores, representantes institucionais e membros da sociedade civil

Sou dos que não acredita que a Pandemia, pela sua profundidade e a sua transversalidade global, cria uma oportunidade única para criar um Homem Novo e, consequentemente, um “Mundo Novo”. Isso não existe! Acredito em algumas mudanças no comportamento, motivadas por novos hábitos, como: a busca pela simplicidade; a valorização de uma interacção cooperativa mais feliz e menos competitiva; ou o privilégio do contacto com a Natureza e o disfrutar das suas dádivas.

O impacto nos agentes económicos, existirá e deverá ser ponderado, mas não de forma a justificar o privilégio de uma estratégia de renovação, face á estratégia, menos “sexy” mas mais urgente, de reabilitação!

A minha experiência no terreno mostra-me que uma boa Estratégia com uma ineficiente execução é inútil e eventualmente negativa. Uma adequada Execução tem um ponto de partida, um ponto de chegada, e uma operação.

A Execução

Essencialmente ficámos esmagados com a dimensão das ajudas Comunitárias que “foram aprovadas” e ouvimos o clamor da “ultima oportunidade” de colocar Portugal na vanguarda Europeia, se visionarmos e aprovarmos a Estratégia certa. Aonde não estamos a par é na capacidade de Execução. Quem executa? A Administração Pública? O Sector Privado? Os Consultores? As Universidades?

Uma boa execução implica conhecer o ponto de partida; definir os pontos de chegada, timing e etapas intermédias, para feedback e correcção da acção; e montar a “máquina” que vai executar, com os talentos adequados, um modelo de governo simples e transparente, e uma liderança adequada e preparada para medir e correr os riscos necessários.

Em paralelo temos que ter muito claros os horizontes e as medidas, as equipas e os objectivos que as enquadram (obviamente distintos). À partida definiria 4 horizontes:

  1. O que estamos a viver, consequência do confinamento, em que os lay-off e as linhas Covid e as moratórias, supunham preservar o aparelho produtivo.
  2. O que se segue e poderá durar 6 a 9 meses (até acabarem as moratórias e entrarem as 1as disponibilizações de Fundos da EU) terá três prioridades/objectivos:
    • Avaliar os danos;
    • Estabelecer e pôr no terreno a rede de apoio social às vítimas;
    • Ter previstos e disponibilizar de imediato os apoios financeiros às empresas que sobrevivem, tendo consciência que na maioria dos casos o seu perfil de risco não é compatível com a grelha de avaliação dos Bancos e que as garantias do Estado terão que colmatar essas falhas em condições de maturidade e custo compatíveis.
  1. O 3o, cujo inicio deverá coincidir com o fim das moratórias e a chegada de Fundos da EU, e se desenvolverá até ao fim do ciclo:
    • Quais os projectos (empresas e incentivos) que devemos apoiar (e como) para expandir e/ou transformar;
    • Atracção para Portugal de parte da cadeia de valor resultante da reestruturação das grandes empresas internacionais;
    • Posta em prática de um plano de recuperação/normalização social, que não deixe ninguém de fora, mas privilegie as acções dinâmicas (educação; requalificação; estágios; especialização; rede de cuidados primários e secundários) em detrimento dos subsídios à inactividade.
    • Arranque dos projectos estruturantes.
  2. O 4o, muito sobreposto com o 3o, deveria ter duas prioridades:

A Estratégia

  1. Posta no terreno dos projectos estratégicos e transformacionais (assumindo que estão selecionados).
  2. Recolha dos dados de monitorização de todo o plano, em todas as fases, por entidade independente, feedback, análise de desvios, e planos correctivos.

A reflexão “Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica” elaborado pelo Prof Antonio Costa e Silva, é um documento valioso, que na minha opinião lança desafios arrumados por “10 eixos estratégicos” por ele selecionados. Arrisco selecionar e comentar algumas dessas ideias:

(i) A Educação/qualificação/requalificação é sem dúvida a primeira prioridade. Não sugiro uma revolução na Educação, mas um “Plano de intervenção para a Modernização”, que intersecte os vários níveis e especialidades com medidas concretas, possíveis de pôr em prática em meses e desenhados por especialistas pragmáticos, que seguramente temos.

(ii) A investigação e inovação estão intimamente ligados ao tema anterior, e transcrevo esta análise de ACS: “...O país tem hoje um sistema científico equipado, Centro Tecnológicos e de Investigação de primeiro plano, investigadores reconhecidos e empresas de ponta em muitas áreas-chave. O que falta é um programa de investimento direcionado para o apoio á I&D e à transferência da investigação para produtos competitivos, consolidando um cluster num sector pujante da economia. É evidente que é preciso continuar a apostar na educação e formação de investigadores, para alimentar o crescimento deste setor, mas trata-se agora de aproveitar esta janela de oportunidade para dar um salto industrial que pode ser um elemento transformador da economia”. Há que desenhar rapidamente esse programa de investimento e executar.

(iii) Nas fileiras tradicionais: Portugal tem quase sempre tido sucesso na modernização deste tema, desenvolvendo planos específicos para subir na cadeia de valor e, agora, apostando no Mundo Digital e na descarbonização. Falo do têxtil, do calçado, da metalomecânica, da floresta, do papel, no vinho, na agroindústria, nos frescos e outros. Lancemos um desafio ás associações e principais empresários de cada área para em poucos meses e com o apoio do Ministério da Economia apresentar um plano específico de “Investimento para a Modernização”, com calendários de execução realistas e apertados.

(iv) O tema das infraestruturas está muito bem desenvolvido no documento ACS e sabemos todos que é uma das preferidas pelo Conselho Europeu. Aqui a nossa situação geográfica dá-nos vantagens ao nível dos Portos, Ferrovias, Centros logísticos e Zonas francas. Sobre o Aeroporto de Lisboa: porque não aproveitar para revisitar de forma objectiva e limitada no tempo, a decisão Montijo+Portela vs Alcochete. A decisão Portela+1 foi então anunciada como a única compatível com a não interrupção da expansão do Turismo. Não teremos mais tempo agora?

(v) Na Energia, Portugal atingiu importantes resultados com a aposta nas renováveis (água, vento e sol). Para se optimizar essa modelização, é necessário que o “Investimento mínimo tecnicamente viável” tenha suficiente granularidade. Tudo o que seja “repower e overpower” no eólico, e extensão no Solar, deve ser incentivado. Quanto ao Hidrogénio, não me sinto habilitado tecnicamente para me pronunciar. Em contrapartida, o Lítio, salvaguardadas as consequências ambientais, parece ser um projecto fundamental, apostando na miniaturização das baterias, e sendo um recurso endógeno do País.

(vi) A Mobilidade elétrica deverá ter um plano praticamente pronto a apresentar, com um nível de know-how já apreciável.

Certamente que questões importantes e prioritárias não foram aqui elencadas; mas estas as mais sensíveis para mim e constituem já um volume de trabalho, que a ser executado nos próximos 3 anos, daria um fantástico impulso ao País!

Veja mais contributos aqui.

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