visao.sapo.ptluisdelgado - 26 out. 21:31

Visão | O milagre das rosas de Marta Temido

Visão | O milagre das rosas de Marta Temido

18 mil camas no SNS só para Covid? Será que percebemos bem? Faltou fazer uma pergunta, mas é de importância menor: com tantas camas dedicadas à Covid-19, tantos internados, será que não precisam de equipas médicas, de enfermagem, técnicos de saúde e tantos outros que assegurem o tratamento adequado? Ou só pensaram nas camas?

Marta Temido “inventou” uma nova forma de nos descansar. Avisa-nos das desgraças uns dias antes. Vão aumentar os contágios, os internamentos e as mortes. São modelos matemáticos, disse, para aliviar um pouco a responsabilidade dessa tragédia. Mesmo sem modelos não seria difícil perceber que a pandemia está descontrolada, e que pouco ou nada se faz, ou quer fazer. O papel da ministra da Saúde passou a ser apenas o de mensageira das más notícias. Ponto final. Tudo vai aumentar, e então, o que vão fazer? Não é ela que tem de responder? Não lhe cabe esse dever?

Há poucos dias, também nessa nova tarefa, que não é tarefa nenhuma, Marta Temido descansou-nos. Temos Por extrapolação, com exagero, até poderiam ter mandado construir um hospital novinho em folha, como os chineses, com tudo à disposição, carregado de doentes, mas sem pessoal nem medicamentos. Coisa macabra, diga-se.

Marta Temido até pode arranjar 50 mil camas, sabe-se lá o que aí vem, e mesmo assim vão servir para quê? Meros depósitos de doentes? E quem decide essa triagem? Não é seguramente o protocolo de Manchester. Quem vai para esses depósitos? Onde é que há médicos? E enfermeiros, que já estão a ser ajudados por estudantes? Só mais uma pequena interrogação: e as centenas de médicos especialistas, que não em Covid-19, vão para casa ou são reciclados? Cirurgiões, cardiologistas, oncologistas, neonatologistas, e mais dezenas de outras especialidades convertem-se, de repente, em médicos de saúde pública, especialistas em SARS-CoV-2? E os internados deles apagam-se, riscam-se, deixam de existir?

Para 21 mil camas, em todo o SNS, existem equipas hospitalares especializadas e dedicadas, que são milhares de médicos, enfermeiros, técnicos e suporte básico de funcionamento. Se 18 mil vão para Covid-19, de onde vêm essas outras equipas? Onde é que estão? Escondidas, a ganhar músculo? A ministra sabe, como todos sabemos, que os médicos estão esgotados, com a avalancha de doentes, os enfermeiros não chegam, e todos os outros técnicos atingiram o limite. O plano B é arranjar mais camas?

A ministra também sabe, como todos sabemos, que não podemos entrar em novembro, e depois dezembro, sem medidas duras de restrição, porque infelizmente, de uma forma ou outra, a economia será sempre duramente atingida. Podem deixar tudo aberto, a fingir que funciona. Numa pandemia, nesta pandemia, não há soluções híbridas. Ou se deixa andar, ou se volta a fechar como está a fazer a Europa. Fomos muito bons no início, não podemos estragar tudo agora. Mas vamos.

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