www.sabado.ptleitores@sabado.cofina.pt (Sábado) - 4 ago. 18:43

Precisamos de mais amor

Precisamos de mais amor

Todos julgamos, criticamos, avaliamos previamente com base no nosso próprio julgamento porque, na maior parte das vezes, julgar é apenas um reflexo da nossa imagem ao espelho, do medo, dos traumas e inseguranças que temos. - Opinião , Sábado.

Se não estivesse já com a cabeça mergulhada nas férias ocorrer-me-ia dizer umas palavras sobre o crime ignóbil de Moscavide. Se não estivesse distante do que acontece no mundo poderia escrever sobre essa tendência tão humana de julgar. Se não estivesse neste limbo, se os tivesse no lugar e não receasse essa tendência, também tão humana, de criticar, já teria opinado sobre o tema, quem sabe no twitter, ou partilhando o rosto de Bruno Candé no instagram mas não o fiz principalmente porque aquilo que me ocorre, de imediato, é o julgamento do outro, nessa destilaria de ódio e frustração em que o twitter se vem transformando. Se estivesse (mais) atenta às notícias, provavelmente o meu olhar sobre e o tema seria outro porque aqueles que afirmam não existir racismo em Portugal não sabem do que falam. O racismo é um julgamento de valor que consideramos intrínseco à natureza humana quando, na verdade, é um comportamento social aprendido, fruto da socialização de que somos alvo. Creio que ninguém nasce achando que o outro é diferente e que isso é mau. As crianças conseguem observar a diferença, igorando-a de forma natural porque só começamos a verificar o julgamento e a crítica à medida que vão crescendo, socializadas e educadas em torno de um determinado conjunto de princípios e valores. 

Todos julgamos, criticamos, avaliamos previamente com base no nosso próprio julgamento porque, na maior parte das vezes, julgar é apenas um reflexo da nossa imagem ao espelho, do medo, dos traumas e inseguranças que temos. E o mundo está cheio disso porque é o medo, justificado - ou não - que nos faz achar que aquelas pessoa vai à partida, ter um determinado comportamento, o trauma de experiências anteriores e as inseguranças reforça-o. Neste capítulo, cada um tem as suas e ninguém se livra delas pelo que, neste caldeirão emocional, preferimos ignorar as emoções que nos incomodam, atacando antes que o outro possa atacar. 

Nas conversas de café, excertos dos disparates que passam nos noticiários, fotografias que provocam irritação e uma alternância de conteúdos que assusta quem não está todo-o-dia a seguir o fluxo das publicações, hesitando publicar. Qual será o próximo tema?Posto isto, importa dizer que vivemos numa auto-censura permanente ou, pelo contrário, numa acção-reacção de constante ataque para evitar que alguém nos ataque em primeiro lugar. Em qualquer dos casos, importa perceber o que motiva este comportamento o qual, em última análise, é responsável pelo racismo e xenofobia na nossa sociedade mas também, responsável por tantos outros "ismos" não tão graves porque não matam ou, pelo menos, não tão óbvios, como o machismo, para citar apenas um deles. Detractores: não estou a comparar racismo ao machismo, podem engolir o veneno porque quero apenas demonstrar que o que motiva crimes de ódio é o mesmo que motiva comentários aguerridos e crimes socialmente aceites, que nos perseguem sempre que ousamos viver. 
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