rr.sapo.ptOpinião de Francisco Sarsfield Cabral - 5 jun. 07:27

Uma visão estratégica

Uma visão estratégica

O prof. António Costa Silva não vai governar nem fingir que governa. Mas os seus conselhos poderão ajudar a modernização da economia portuguesa.

Há dois dias, chamei a atenção para aquilo que designei de “danos colaterais nos apoios às empresas”. Esses apoios são indispensáveis, sem dúvida, neste momento de brutal crise económica e social. Mas trazem consigo alguns riscos que importa limitar tanto quanto possível – riscos de encostar cada vez mais a iniciativa privada ao Estado, riscos de promiscuidade entre negócios e política, riscos de prejudicar uma saudável concorrência empresarial, etc.

Numa entrevista ao “Público”, António Costa Silva revelou um pouco mais da sua visão estratégica para o futuro da economia portuguesa, mostrando ter consciência de alguns daqueles “danos colaterais”, o que é positivo. Por exemplo, afirmou “sou um grande defensor dos mercados (...) sou absolutamente contra as visões estatizantes da economia”.

Costa Silva aponta um instrumento para a revitalização das empresas: “pela primeira vez, criarmos um mercado de capitais no país”. Por outro lado, refere um ponto importante que não tem sido falado: “o Estado (deve) ter uma espécie de estratégia de retirada da sua intervenção na economia”. Tal como fazer as pessoas sair de casa tem sido mais difícil do que confiná-las lá, retirar apoios públicos às empresas vai ser certamente mais complicado do que apoiá-las agora.

Sobre eventuais conflitos de interesses com a Partex, uma empresa do sector petrolífero, de que A. Costa Silva se mantém presidente, este foi claro: “não vou recomendar a aposta no petróleo e no gás (...) vou recomendar uma grande aposta nas energias renováveis”. E referiu que “a energia solar será uma das grandes soluções deste século”.

O prof. A. Costa Silva não hesitou em apontar a necessidade de aproveitarmos todos os recursos que possuímos, ainda que isso seja impopular. “O programa, afirmou ele, é direcionado para os recursos minerais e estratégicos. Temos cobalto, lítio, manganês, níquel – são materiais indispensáveis para a transição energética”. E acrescentou: “não podemos ser hipócritas e querer a transição energética (...) e depois recusar a base das baterias” – o lítio, claro.

O programa de Costa Silva irá referir o isolamento do país, que só tem uma fronteira terrestre, o que impõe “uma grande aposta nas infraestruturas, sobretudo nas ferroviárias”. Algo que, sobretudo pelo PS, tem sido dito, mas pouco se fez. Talvez, neste assunto, como noutros, o “empurrão” de Costa Silva ajude a que se passe dos discursos à ação. E contribua para que o debate político em Portugal seja mais construtivo e mais centrado em causas do que em casos.

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