expresso.pt - 30 mar. 12:39
Covid-19. “A situação está bastante difícil e piora a cada dia que passa”: o testemunho de um japonês a viver em Itália
Covid-19. “A situação está bastante difícil e piora a cada dia que passa”: o testemunho de um japonês a viver em Itália
“Todos os hábitos mudaram. Todos os dias há carros da polícia com altifalantes a avisarem as pessoas para ficarem em casa”, conta Shugo Echizenya ao Expresso. Com o maior número de mortos em todo o mundo (mais de 10 mil) e os casos confirmados próximos dos 100 mil, Itália soma quase diariamente novos recordes relacionados com a doença. No Japão, a situação é incomparável, mas a distância gera preocupação
Shugo Echizenya nasceu em Hokkaido, no norte do Japão. Aos 17 anos, mudou-se para Bolonha, onde se formou em Antropologia Cultural. Atualmente a viver e a trabalhar em Turim, conta ao Expresso como têm sido os seus dias de quarentena por causa do coronavírus. “A situação em Itália está bastante difícil e piora a cada dia que passa. Não é difícil pela quarentena propriamente dita, mas pelo facto de todos os dias recebermos notícias de mais mortes e mais pessoas doentes.”
Com o maior número de mortos em todo o mundo (mais de 10 mil) e os casos confirmados próximos dos 100 mil, Itália soma quase diariamente novos recordes relacionados com a doença. O número de recuperados também vai fazendo o seu caminho, ultrapassando os 13 mil. O primeiro caso reportado remonta a 29 de janeiro, estando todo o país em quarentena desde 10 de março.
“Eu e a minha mulher estamos a trabalhar um bocado através da Internet, mas não muito. Não há problemas na compra de comida e de outros bens essenciais porque os supermercados continuam abertos”, relata. No entanto, sublinha que “todos os hábitos mudaram”. “Desde a quarentena estamos sempre dentro de casa com os nossos dois cães. Após alguns dias, as autoridades proibiram as saídas à rua para caminhar e só se pode sair com os cães durante poucos minutos e nas imediações de casa. Todos os dias há carros da polícia com altifalantes a avisarem as pessoas para ficarem em casa”, descreve.
As comunicações com os amigos e os familiares são diárias, seja por telefone ou pelas redes sociais. No caso de Shugo, com a família a milhares de quilómetros e impossibilitado de se deslocar – até mesmo na cidade onde vive, a preocupação é naturalmente maior. Ainda assim, a sua família encontra-se “bem”.
No Japão, a situação é incomparável com a que se vive em Itália. Com um total de 1.866 casos confirmados, 54 mortos e 424 recuperados no país, o Governo de Shinzo Abe está a equacionar proibir a entrada a estrangeiros que, nos últimos 14 dias, tenham estado “nos EUA, na China, na Coreia do Sul e na maior parte da Europa”. A informação foi avançada esta segunda-feira pelo jornal “The Japan Times”.
Em relação aos cidadãos japoneses e a estrangeiros que cheguem de outras áreas “ser-lhes-á pedido que cumpram uma quarentena” de duas semanas, acrescenta o diário. As medidas seguem-se ao adiamento para o próximo ano dos Jogos Olímpicos de Tóquio.