www.dinheirovivo.ptdinheirovivo.pt - 30 mar. 02:52

Negócio para salvar rei dos cogumelos em risco

Negócio para salvar rei dos cogumelos em risco

Dificuldades de tesouraria causadas pela Covid-19 e impossibilidade de aceder aos instrumentos de emergência criados põem futuro da Sousacamp em risco

A solução para a Sousacamp, que passa pela entrada do fundo Core Capital, deve ficar fechada até ao fim desta semana mas o que se previa ser agora um negócio relativamente simples poderá estar em risco de chegar a concretizar-se.

Ainda neste fim de semana, o presidente do Novo Banco veio congratular-se com o plano que permitia salvar o maior produtor de cogumelos da Península Ibérica e assim preservar cerca de 400 empregos, na sequência de um plano de recuperação que vem sendo negociado há meses. Mas a quebra no negócio da empresa e consequentes problemas de tesouraria, bem como a impossibilidade de recorrer aos apoios criados pelo governo por se tratar de uma empresa recuperada à insolvência e ainda com um volume de dívida considerável, podem ditar um final nada feliz.

Acontece que a crise da covid-19 está a ter efeito no rei dos cogumelos, que teve nas últimas semanas uma quebra de vendas de 50%, o que deixa a tesouraria da empresa em falência técnica. Apesar de as grandes superfícies manterem os seus compromissos, os pequenos compradores, como restaurantes e lojas mais pequenas, deixaram de fazer encomendas.

A empresa estava já a atravessar um momento difícil, tendo sido a Core Capital a chegar-se à frente para pagar os salários de fevereiro dos 430 trabalhadores, que estavam em atraso. Apesar de ainda não ter o ok oficial para avançar com o plano de reestruturação, “já em dezembro a gestora de capital de risco tinha adiantado outros 1,5 milhões à massa insolvente para garantir a continuidade da atividade da empresa e a manutenção dos trabalhadores”, revelou no início do mês ao Dinheiro Vivo o administrador de insolvência, Bruno Costa Pereira.

Por se tratar de uma empresa com dívidas ao fisco e à banca, na sequência de um processo de insolvência – recorde-se que a Sousacamp estava num pacote de malparado do Novo Banco, o Nata II, somando ainda como maiores credores a Caixa Agrícola e o Instituto de Financiamento Agrícola e Pescas (IFAP), num total de 60 milhões de dívida, dos quais 40 milhões seriam perdoados, de acordo com o plano de recuperação -, a maior produtora de cogumelos da Península Ibérica não tem acesso a qualquer dos instrumentos criados pelo governo para ajudar as empresas a ultrapassar os efeitos da pandemia. O que limita a capacidade do administrador de insolvência para encontrar soluções de tesouraria para fazer face à brutal quebra de receitas.

Esta nova realidade altera ainda, a médio prazo, o racional do negócio – a situação de falência técnica já está, aliás, a ser analisada pelas partes, dado o impacto no negócio e tendo em conta que o negócio deverá ser formalizado até ao final desta semana. (leia mais aqui)

Estando numa das zonas mais afetadas pela pandemia, a Sousacamp está assim a sofrer efeitos diretos e indiretos da Covid-19. Além da quebra de encomendas que deixou a empresa sem tesouraria e sem hipótese de recorrer aos apoios anunciados – layoff, linhas de crédito, etc. -, está em causa a própria validade do plano de insolvência desenhado, que antecipava que o investimento do fundo de capital de risco fosse integralmente aplicado na regeneração da companhia. Se esse valor fosse usado para fazer face aos problemas de tesouraria provocados pela Covid-19, não restaria dinheiro para implementar o plano de restruturação, que inclui o investimento numa nova unidade de composto, uma vez que a que existia foi destruída pelos sucessivos atrasos no processo.

  • Recorde-se que o acordo entre o IFAP e o Novo Banco está ainda à espera de ser assinado, com vista ao negociado perdão de dívida e prestação de uma garantia bancária de 5,3 milhões de euros, encontrando-se solução para os projetos financiados pelo instituto ao longo dos anos. O plano de insolvência obriga a que esse acordo obtenha a concordância do fundo de capital de risco e do administrador de insolvência.
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