ionline.sapo.ptJosé Cabrita Saraiva - 30 mar. 09:47

O cenário otimista do Banco de Portugal

O cenário otimista do Banco de Portugal

Parece quase inevitável que muitas empresas não consigam aguentar ou que, para resistir, lancem pessoas para o desemprego. O investimento deverá cair a pique – quem vai querer apostar num tempo de grandes incertezas, arriscando-se a perder tudo?

O Banco de Portugal divulgou no final da semana passada um boletim económico com previsões para 2020 em que traçou dois cenários: no melhor (a que chamou “cenário base”), estima uma recessão de 3,7%; no pior (o “adverso”), de 5,7%. É evidente que se há instituição que tem os meios e o conhecimento para fazer estas previsões é o banco central. Mas a verdade é que estes números parecem, até mais do que otimistas, irrealistas. Uma queda de 5,7% do PIB no pior cenário? A mim parecer-me-ia um milagre, dada a situação atual e o que se perspetiva para os próximos tempos. O consumo também diminuirá drasticamente, quer porque as pessoas têm menos dinheiro, quer por terem interiorizado receios ou até simplesmente porque entretanto mudaram de hábitos e se restringem ao essencial. Queda abrupta do investimento, queda do consumo, aumento do desemprego, a nossa principal indústria (a do turismo) a sofrer um golpe tremendo. Tem sido dito por muita gente que o Governo não está a fazer o suficiente para apoiar os setores e empresas em dificuldades, que as medidas anunciadas são manifestamente insatisfatórias. Talvez tenham razão. Mas, para sermos justos, devemos ter a noção de que há tantos fogos para apagar que nem o mais eficiente bombeiro conseguiria ir a todas. Se até grandes grupos privados, comprovadamente competentes e ansiosos por faturar, foram apanhados de surpresa e têm tido dificuldade em fazer face à situação (durante mais de uma semana tentei fazer compras no Pingo Doce online sem sucesso e dizem-me que no Continente também é difícil), alguém poderia esperar que o Estado resolvesse os problemas todos? E daqui para a frente será pior: a receita fiscal deverá cair a pique, o que leva a questionar que apoios poderá o Estado conceder. Em suma, espero estar enganado, mas face à catástrofe que se adivinha, uma recessão de 5,7% até parece um cenário otimista. 

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