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Coronavírus: e se morreu muito mais gente na China do que os números oficiais dizem?

Coronavírus: e se morreu muito mais gente na China do que os números oficiais dizem?

As suspeitas avolumam-se, nas redes sociais chinesas e perante o número de urnas funerárias onde são colocadas as cinzas das pessoas que morreram em Wuhan, a cidade onde surgiu o coronavírus.

Em Wuhan, a cidade chinesa onde surgiu o novo coronavírus, e que foi devastada pela infecção, há filas que duram horas e horas para as pessoas poderem recolher as urnas funerárias com as cinzas dos parentes que morreram durante a epidemia. Só agora começam a ser libertadas e as filas são tão grandes que a revista chinesa Caixin, conhecida pelos seus trabalhos de investigação, interroga que os mortos terão sido muito superiores ao que dizem os números oficiais.

A cidade, com cerca de 11 milhões de habitantes, teve cerca de 50 mil casos de covid-19, e registou mais de 2535 mortos. A permissão de levantar as cinzas dos entes queridos faz parte do alívio das medidas de emergência, agora iniciadas. Após 70 dias de confinamento com regras mais estritas do que tudo que agora estamos a ver na Europa ou em qualquer outra área geográfica, as restrições estão a ser progressivamente levantadas até 8 de Abril.

O número de novos casos caiu praticamente para zero nos últimos dias. As pessoas internadas não se puderam despedir das suas famílias, foram afastadas de tudo e de todos. Por isso, este momento de recolher as suas cinzas é um recuperar dos familiares, do momento de trauma. E a oportunidade de lhe prestar a devida homenagem.

Só que são tantas pessoas. A revista conta o caso de Liu Ping, que se pôs na fila da casa funerária Hankou, em Wuhan, tirou uma senha e foi atendida seis horas depois, recebendo as cinzas do pai.

Nas redes sociais chinesas, relata a Bloomberg, circulam fotos de milhares de urnas funerárias acumuladas. Numa única funerária foram entregues, na quarta e na quinta-feira, cerca de 2500 urnas por camiões, ainda de acordo com a Caixin. Outra imagem mostrava 3500 urnas empilhadas.

É fácil perceber que tudo isto dá um valor muito maior que o número de mortos oficial, e sugere algo avassalador – fala-se num número que ronda as 45 mil urnas distribuídas só em Wuhan, dizem alguns media asiáticos. Tudo é combustível para alimentar as suspeitas e que a China não revelou a verdadeira dimensão da crise que viveu com o novo coronavírus, e que agora o resto do mundo está a enfrentar.

A forma de contagem dos casos foi revista várias vezes na China, e é difícil determinar a validade dos números apresentados por Pequim. Os esforços iniciais das autoridades da província de Hubei, onde fica a cidade de Wuhan, para esconder a epidemia, também não ajudam a clarificar as coisas. Oficialmente, a China tem 82.221 casos.

Além disso, muitas pessoas morrem com sintomas de covid-19, embora não tenham sido testadas para a doença, por isso não entram para a contagem oficial, sublinha a Caixin.

Estas questões não ajudam a trazer tranquilidade quanto a uma possível segunda vaga do novo coronavírus na China, da qual se começa a falar. O maior risco são os casos importados, pois as transmissões entre habitantes locais “basicamente pararam”, disse à Reuters um responsável pelos serviços de saúde bem colocado na hierarquia de governo.

Este domingo registaram-se apenas 45 casos no país, e só um não vinha do estrangeiro. Até agora, a China tem um total de 693 casos de infecções pelo coronavírus trazidas de fora, o que significa que o risco dessa segunda vaga “continua a ser relativamente grande”, disse à Reuters Mi Feng, porta-voz da Comissão Nacional de Saúde. Cerca de quarto desses casos entra no país através de Pequim.

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