ionline.sapo.ptPedro Ferros - 14 nov. 09:20

Crónica sobre a ditadura da maioria órfã do PREC

Crónica sobre a ditadura da maioria órfã do PREC

Potenciado pelo 25 de Abril de 1974, o 25 de Novembro – que interrompeu o PREC e libertou Portugal da influência totalitária do PCP e da linha comunista do MFA – foi o movimento verdadeiramente garante da nossa democracia e o único que verdadeiramente garantiu o pluralismo democrático em Portugal.

Estamos a escassas semanas de mais um aniversário do contragolpe dos moderados que ficou conhecido na nossa história como o 25 de Novembro.

Por estes dias, olha-se para esses dias gloriosos e de esperança e coragem, e pasma-se!

Não tanto por haver um secretário de Estado – afundado num dossiê cujos contornos deixam fundadas e compreensíveis dúvidas – a fugir das populações em raiva.

Ou porque, nos tempos do decretado fim da austeridade, hospitais fecham à noite e aumentos de impostos são escondidos em tecnicalidades fiscais como englobamentos em vez de taxas liberatórias ou nas manobras dinásticas que aproximam o presidente da Câmara de Lisboa do actual Executivo.

Por alguma razão, à boleia do silêncio cúmplice de tantos e dos esforços censórios da maioria parlamentar, o Executivo foge miseravelmente às merecidas balas e repudia a herança dessa liberdade de Novembro de há tantos anos para se perpetuar no poder.

No revivalismo progressista que foi a imagem de marca da última legislatura, o bom hábito de recordar a saída dos comandos à rua para esmagar a revolução comunista do PCP e das extremas-esquerdas perdeu-se, como se vão perdendo os bons hábitos da democracia parlamentar às mãos destes tiques totalitários dos geringonços.

À primeira hipótese e em conluio, todos juntos e para esta legislatura, os partidos antigos sócios da maioria, na casa da democracia, decidiram que nenhum partido de deputado único falaria nos debates quinzenais.

Num mundo que se perde a discutir homens de saias e em que, na putativa casa da democracia portuguesa, o histórico PS – bastião fundamental da luta contra o PREC e pela democracia – se alia aos órfãos da (quase) Albânia do Ocidente para silenciar as vozes incómodas eleitas pelo Povo, haverá, mais que celebrar a data heróica (que as esquerdas peleiam por fazer esquecer), antes que corar de vergonha ou pedir desculpas aos homens que morreram nesse dia pela nossa liberdade e que, lá onde estiverem, assistem a esta palhaçada.

Passada aquela legislatura em que o partido que foi empossado Governo não foi o que ganhou as eleições, é a negação absoluta da tal legitimidade do putativo regime parlamentar que tudo podia, esta ideia – com regimento ou sem ele – de que, afinal, o tal regime parlamentar que elege Governos contra os resultados eleitorais, e aí serve a democracia, usa o mesmo poder para, desta vez, em vez de dar voz às minorias unidas, afinal serve antes para esmagar as vozes incómodas.

Interessa pouco se no fim do dia foram dados aos partidos de deputado único uns miseráveis segundos para falar.

Não há uma segunda oportunidade para causar uma boa primeira impressão e, aqui, esta já passou. A maioria da esquerda ex-geringonça mostra ao que vem e a ideia que tem da democracia parlamentar e do debate de ideias.

A democracia parlamentar que o 25 de Novembro garantiu aos portugueses, e de que o PS entretanto se esqueceu e já não merece menção na casa da democracia, foi um legado claramente imerecido para alguns partidos.

Advogado

Escreve sem adopção das regras do acordo ortográfrico de 1990

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