ionline.sapo.ptJosé Cabrita Saraiva - 22 jul. 09:52

Quatro perguntas incómodas sobre os novos passes sociais

Quatro perguntas incómodas sobre os novos passes sociais

Dê por onde der, por mais que Centeno seja o novo mago das Finanças, não há milagres da multiplicação dos transportes.

Estão a partir de hoje disponíveis os novos passes Navegante Família que permitirão poupanças substanciais às famílias residentes na Grande Lisboa. Por um máximo de 80 euros, a família inteira pode utilizar toda a rede de transportes públicos - comboios, autocarros, metro ou elétrico - da Área Metropolitana de Lisboa. Por 60 euros, a família tem direito a uma versão “B”, com viagens ilimitadas no interior do seu município.

Não faltam argumentos a favor do novo regime de passes sociais mais baratos introduzido por este Governo: beneficia sobretudo os mais desfavorecidos, que não têm carro próprio; promove a mobilidade; funciona de maneira muito mais simples do que o sistema anterior; ajuda a retirar automóveis dos centros urbanos; diminui os engarrafamentos... enfim, só vantagens.

No entanto, num segundo momento a questão dos passes mais baratos também coloca algumas interrogações. 1. Se antes, com os preços dos títulos mais elevados, as empresas de transportes já tinham défices e dívidas assustadores, como vai ser agora? Como é compensada a perda de receita? 2. Com o aumento de utilizadores, a qualidade do serviço não vai degradar-se? 3. Será justo que, por exemplo, uma família que vive numa aldeia rural e pouco saia de lá ande a pagar, através dos seus impostos, as viagens de metro, de autocarro ou de comboio de uma família que vive em Campo de Ourique ou no Estoril?

E, como percebeu o romancista britânico David Lodge, “um almoço nunca é de graça”. Alguém tem de pagar a fatura. Se não são os utilizadores, que até passam a pagar muito menos, será forçosamente quem não anda de transportes. Não será muito o que cabe a cada um, porque a dividir por todos a quantia se dilui. Mas esse dinheiro talvez pudesse ser usado de uma forma mais produtiva. E por fim, a pergunta incómoda mas inescapável: será uma mera coincidência que o novo regime entre em vigor a poucos meses das eleições legislativas?

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