observador.ptobservador.pt - 23 mai. 00:21

Abandonado em bebé num aeroporto em 1986. 33 anos depois encontrou a família biológica

Abandonado em bebé num aeroporto em 1986. 33 anos depois encontrou a família biológica

O Gatwick Baby, como ficou conhecido, foi encontrado no aeroporto de Gatwick, em Londres, em 1986. Determinado em encontrar a família, iniciou uma busca que durou mais de 30 anos.

10 de abril de 1986. Aeroporto de Gatwick, sul de Londres. Uma assistente de vendas repara num carrinho de bebé abandonado na casa de banho das senhoras enquanto lava as mãos. A cobri-lo está uma manta. Curiosa, Beryl Wright retira a manta e depara-se com um bebé recém-nascido. Nessa tarde, começaria o mistério do bebé abandonado no aeroporto.

Funcionários do aeroporto compraram roupa e comida para o rapaz. Um polícia alimentou-o e uma mulher embrulhou o bebé num cachecol. Um sargento da polícia ofereceu-se mesmo para ficar com o bebé se os pais não aparecessem. E nunca apareceram. Na altura, páginas de jornais fizeram manchetes mas os pais nunca foram conhecidos. O bebé foi apelidado de “Gary Gatwick”, nome da mascote do aeroporto londrino, e entregue para adoção. Beryl Wright contaria anos mais tarde que nunca deixou de pensar no que aconteceu ao bebé do aeroporto de Gatwick.

Steve Hydes. Eis o nome escolhido para o rapaz pela família que o adoptou. Cresceu num bom lar, com três irmãs. “Tenho uma óptima família, tenho mais sorte que muita gente”, assumiu. Vive em Sussex, muito perto de Gatwick, trabalha como jardineiro e já é pai de um rapaz e de uma rapariga. Em 2004, começou a procurar a verdade, com ajuda da sua parceira, Sammy. Ser pai foi, precisamente, o que despoletou a necessidade de Hydes descobrir as suas raízes e a família biológica. E conseguiu, noticia o Washington Post.

Quero que a minha mãe saiba que não estou zangado com ela e que se ela aparecer não vai ser conhecida pelo público. Mas há tantas coisas que lhe gostava de perguntar, e tantas coisas que gostava de saber sobre o meu passado”, disse Hydes em 2011.

Depois de anos de procuras e de becos sem saídas, Hydes anunciou no início deste mês que conseguiu descobrir os seus pais biológicos. Numa página de Facebook que o próprio criou para documentar a sua busca, o “bebé” informou que conseguiu chegar aos pais verdadeiros através de pesquisa genealógica. No entanto, Hydes nunca poderá perguntar à mãe o que tinha em mente. “Infelizmente, a minha mãe biológica já faleceu, por isso não serei capaz de descobrir o que aconteceu exatamente nem porquê”, escreveu na página.

Hi guys,Some good news! After 15 years of searching I am happy to confirm that with the very hard work of Genetic…

Posted by Gary gatwick airport baby abandoned on Saturday, May 11, 2019

Hydes iniciou a sua busca em 2004 e cedo percebeu que não seria tarefa fácil. Começou por reunir informação transmitida pelos media na altura em que foi abandonado. A equipa de relações públicas do aeroporto também organizou um reencontro entre o Gatwick Baby e os funcionários que o encontraram e cuidaram dele naquela tarde: o polícia que o alimentou, os funcionários que lhe compraram roupa, a mulher que o embrulhou num cachecol e, claro, Beryl, a mulher que o descobriu abandonado na casa de banho.

De certa forma, eles sabiam mais de mim do que eu próprio. O que me fascinou foi o quanto eles se preocupavam comigo”, disse Hydes.

Fotografia do dia em que o “Gary Gatwick” foi encontrado

Steve tentou ainda requisitar os documentos e relatórios da investigação policial. No entanto, estes tinham sido destruídos. Os relatórios poderiam conter informações cruciais sobre o abandono do bebé. A imprensa avançou na altura que uma mulher ligou para a polícia dois dias depois de o bebé ter sido encontrado, alegando que seria a mãe. Terá dito que a criança se chamava Michael e que era muito nova para ser mãe. A polícia chegou a encontrar a mulher e a interrogá-la, mas as declarações que prestou viriam a ser dadas como falsas.

O local onde Hydes foi encontrando dificultou ainda mais a busca. Abandonado num aeroporto do Reino Unido, o bebé poderia ser, literalmente, de qualquer parte do mundo. Steve Hydes pode mesmo nem ser inglês, refere o Washington Post. Na sua pesquisa, começou então a reunir registos de todos os aviões que descolaram e aterram em Gatwick naquele dia.

Recorte de uma notícia publicada num jornal em 1986

No inicio de 2010, um teste de ADN ajudou a esclarecer o passado de “Gary Gatwick”. Um geneticista da Universidade de Edimburgo analisou o cromossoma Y de Hydes e conseguiu associá-lo a linhagem do seu pai no Leste de Inglaterra. Mas os testes não surtiram mais efeito.

No mesmo ano, o bebé abandonado publicou uma carta aberta à sua mãe numa revista tabloide britânica. “Mãe, eu perdoo-te por me teres abandonado” foi o título dado ao texto. Seria uma última tentativa desesperada para fazer com que a mulher assumisse que era a mãe. A carta nunca obteve resposta.

Excerto da carta enviada à mãe do rapaz publicada numa revista

Mas testes científicos permitiram a Hydes encontrar, finalmente, a sua família biológica. Apesar de a mãe ter morrido, Hydes reencontrou-se com o pai e tios paternos e maternos. No Facebook, Hydes explica que o pai e todos os seus familiares não tinham conhecimento da sua existência.

O caso continua, ainda assim, envolto em algum mistério. Continuam por desvender o porquê de o bebé de dez dias ter sido abandonado no aeroporto londrino naquela tarde de 1986. Bem como a forma como isso foi feito. “Como podem imaginar, este é um assunto muito recente e sensível para todos os envolvidos. Mas é altura de agradecer a todos pelo apoio ao longo destes anos”, escreveu Steve Hydes este mês.

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