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Quercus prepara queixa à UNESCO contra novo parque eólico no Marão

Quercus prepara queixa à UNESCO contra novo parque eólico no Marão

Associação alerta para a incompatibilidade dos novos aerogeradores com a paisagem do Alto Douro Vinhateiro e para perturbação dos habitats de espécies como o lobo-ibérico ou a águia-real.

A Quercus considera que o novo Parque Eólico do Marão constitui um perigo para a paisagem classificada do Alto Douro Vinhateiro e para os objectivos de conservação da biodiversidade na Serra do Marão. Por entender que o projecto é um “atentado” à paisagem cultural da região, a associação ambientalista diz que vai apresentar queixa formal à UNESCO.

Em comunicado, a Associação Nacional de Conservação da Natureza considera que os “oito aerogeradores com 93 metros de altura nas torres e com rotores eléctricos de 114 metros de diâmetro” vão ser visíveis a dezenas de quilómetros, influenciando de forma “muito negativa” a paisagem do Alto Douro Vinhateiro, Património Mundial Classificado. O parque eólico vai ser instalado na freguesia de Ansiães, concelho de Amarante, e na União de Freguesias de Teixeira e Teixeiró, do concelho de Baião.

A Quercus entende que o Marão e o Douro “não devem ser afectados com uma industrialização da paisagem”. Apesar de já existirem vários aerogeradores na região (há sete parques e sub-parques eólicos na área envolvente, de acordo com os estudos disponíveis para consulta pública), a associação acredita que os que vão ser instalados no novo parque eólico, “a acontecer”, têm um impacte paisagístico superior, uma vez que se trata de equipamentos “com altura superior a prédios de 30 andares”.

No entender da Quercus, o Parque Eólico do Marão provocará ainda uma “desfiguração, destruição, deterioração e perturbação do habitat” de espécies como o lobo-ibérico, a águia-real e o abutre-negro, “emblemáticas e protegidas”, considerando, por isso, que o empreendimento se afigura como “uma clara violação das directivas comunitárias e da República Portuguesa”. O alto da Serra do Marão, onde está prevista a construção do parque eólico, está “totalmente localizado” dentro do Sítio de Importância Comunitária Alvão/Marão da Rede Natura 2000, segundo a Quercus.

João Branco, antigo presidente da associação e tesoureiro da nova direcção da Quercus, considera que o projecto, a ser levado para a frente, vai ter implicações graves na fauna da zona devido aos efeitos “cumulativos” das “dezenas” de parques eólicos na zona do Marvão e Alvão. 

Segundo João Branco, a população de lobos na região já é “instável” e sobrevive graças às interacções com as alcateias do Gerês e de Montesinho. O parque eólico vai diminuir ainda mais as áreas remotas e “com pouca pressão humana”, afugentando assim a população de lobos. O antigo presidente da Quercus considera ainda que a empreitada vai ditar “o fim da esperança” que a região tem de voltar a ver águias a nidificar no alto do Marão, um regresso que seria mais um “atractivo para o turismo na serra”.

Nos estudos da empresa Expanindústria, disponíveis para consulta pública até dia 29 de Maio, são recomendados planos de monitorização das espécies depois da instalação dos aerogeradores, o que, afirma João Branco, “não tem lógica nenhuma”. “O que conta é o princípio da precaução”, acrescenta. O estudo conclui que “não é previsível a ocorrência de qualquer impacte negativo sobre o ambiente” que ponha em causa o projecto e que os impactes ambientais durante a construção são “de carácter temporário” e “pouco significativos” na globalidade. Além disso, a construção do parque eólico vai permitir potenciar “a economia local e a qualidade do ar”.

O PÚBLICO tentou contactar a Expanindústria para obter um comentário sobre o assunto, sem sucesso até ao momento.

Texto editado por Ana Fernandes

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