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Uma enciclopédia tcheckoviana

Uma enciclopédia tcheckoviana

Tchékhov explicado em 50 entradas: desde o poder ao dinheiro, passando pela fé e pela medicina
Para quem ama Tchékhov, há um antes e um depois da leitura deste livro

Para quem ama Tchékhov, há um antes e um depois da leitura deste livro

Osubtítulo deste livro é “Argumentos para Um Pequeno Romance”. Estamos perante uma provocação. Ígor Sukhikh sabe que qualquer esboço de romance sobre Anton Tchékhov nunca originará nem um pequeno livro nem um livro pequeno. Especialista na obra do mais conhecido dramaturgo russo, Sukhikh resolveu ir além do muito que sobre ele se escreveu. Como explica na introdução, não se pretende apanhar o “outro” Tchékhov: erotómano, misógino, tísico martirizado pela família. “Tchékhov na Vida” justapõe num só volume cartas pessoais trocadas com a família, com os amigos e com o seu círculo de relações profissionais. A estes trechos juntam-se linhas de contos e peças que espelham aquilo de que Tchékhov fala e ainda frases do que se escreveu sobre ele.

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TCHÉKHOV NA VIDA

Ígor Sukhikh

Relógio D’Água, 2019, trad. de Nina Guerra e Filipe Guerra, 345 págs, €20

Biografia

Textos assinados por biógrafos, amigos, colegas: antes e depois da sua morte. Tudo junto, ficamos entre mãos com uma enciclopédia sobre Tchékhov. Uma declaração de amor tão larga como a vida. São 50 entradas onde se fala de tudo, desde o poder ao dinheiro, passando pela fé e pela medicina. No capítulo ‘Visão do Mundo’, Maksim Gorki defende Tchékhov daqueles que o acusam de não ver além do seu umbigo: “A maioria de nós, os humanos, tem uma visão do mundo precisamente idêntica à das baratas, ou seja, fica metida num lugar quentinho, mexe as antenas, come pão e procria baratas.” Em 1894, Tchékhov escreve a Suvórin, um amigo: “Pergunta ‘o que deve o homem russo desejar agora?’ A minha resposta é: deve desejar. Precisa antes de mais, de desejos, de temperamento. Estamos fartos de moleza.” Numa carta ao seu grande amor, Olga Knipper, assume um tom mais prosaico: “Perguntas-me: o que é a vida? É o mesmo que perguntar: o que é a cenoura? A cenoura é a cenoura, e não se sabe mais nada.” Para quem ama Tchékhov, há um antes e um depois da leitura deste livro. Se seguíssemos as palavras do autor de “O Ginjal” — “Quando vejo os livros, não quero saber como os autores amavam, jogavam às cartas, vejo só as suas obras fascinantes” — não precisaríamos de um livro como este. Por não sermos assim, agradece-se muito o trabalho de formiguinhas como Sukhikh.

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