expresso.ptexpresso.pt - 24 mar. 10:00

Nova SBE monta processo de recrutamento inclusivo

Nova SBE monta processo de recrutamento inclusivo

25 empresas comprometem-se a contratar pessoas com deficiência

Foi há quase sete anos que Carmo e Rui Diniz adotaram Bernardo, o seu quinto filho. E foi também graças a ele que tomaram a iniciativa de criar o Inclusive Community Forum (ICF). Bernardo não vê, não anda e não fala — tem uma incapacidade de 99%. Mas aquilo que, à primeira vista poderia parecer uma limitação trouxe aos seus pais não só um conjunto de alegrias, desafios e dificuldades, mas essencialmente uma vontade de encontrar soluções para muitos dos problemas para os quais a sociedade ainda não tem solução.

As respostas que existem atualmente para os problemas com que as pessoas com deficiência se deparam são, muitas vezes, “soluções pontuais para resolver os problemas sentidos por cada família”, aponta Rui Diniz, fundador do ICF e administrador do grupo José de Mello Saúde, durante a sessão de balanço do primeiro ano da iniciativa. Foi com a consciência disso, e motivados pela sua experiência, que Rui e a mulher decidiram contribuir para o desenvolvimento de soluções mais estruturadas e em larga escala, desafiando a Nova School of Business & Economics (Nova SBE) a criar um centro de estudos dedicado à vida das pessoas com deficiência. Desse apelo nasceu, em 2017, o ICF — que durante ciclos de três semestres se dedica a distintos temas relacionados com a inclusão de pessoas com deficiência na comunidade.

Esta semana, um ano e meio depois (e num período em que o tema foi a empregabilidade), cerca de 25 empresas assinaram um acordo onde se comprometem com a lei nº 4/2019, que estabelece o sistema de quotas de emprego para pessoas com deficiência (com um grau de incapacidade igual ou superior a 60 por cento). Estas empresas, que representam mais de 100 mil trabalhadores, assumem o compromisso de contratar pessoas com esta condição. Accenture, Brisa, CTT, El Corte Inglés, grupo Pestana, IBM, Millennium BCP e município de Cascais foram algumas das entidades que assinaram publicamente esta manifestação de interesse comum.

Recrutamento inclusivo

A deficiência é um dos grandes fatores de exclusão na hora de procurar um emprego. Num país onde existem 1,9 milhões de pessoas com incapacidade, os últimos Census mostram que 28,8% se encontram no desemprego. Os motivos passam pelas próprias pessoas com deficiência, empresas e mercado. “Muitas vezes são estas pessoas que não tomam a iniciativa de procurar emprego, têm medo de falhar, do preconceito... Outras vezes, são as empresas que não estão despertas para o tema, não o têm no topo da sua agenda e têm receio dos riscos”, explica Rui Diniz. “Mas mesmo quando as pessoas com deficiência procuram emprego e as empresas querem contratá-las, não existem no mercado processos de recrutamento estruturados, profissionalizados e em escala.”

Foi a cada um destes obstáculos que o ICF se dedicou no último ano e meio. O maior desafio passou pela montagem de um processo de recrutamento inclusivo — em parceria com as empresas de recrutamento Randstad e Argo e várias IPSS que trabalham neste sector —, para resolver esta falha no mercado de trabalho. Através da iniciativa HR4Inclusion (Recursos Humanos para a Inclusão), criou um percurso com quatro passos e uma maior aposta na integração do candidato na empresa (ver caixa). Esta passa não só por uma preparação do candidato e da empresa antes da sua entrada, no primeiro dia (garantindo as acessibilidades necessárias e atribuindo-lhe um tutor), mas também durante o primeiro ano (através da realização de reuniões entre tutor e técnico da organização social, técnico e candidato, candidato e chefias e também com a equipa).

A par deste, e para incentivar estas pessoas a procurarem e a encontrarem emprego, o ICF criou o programa Peer to Peer (Par a Par): cada um dos dez alunos da Nova que participaram ficou emparelhado com uma pessoa com incapacidade e, juntos, os dois elaboraram currículos, candidataram-se a vagas de emprego e prepararam-se para entrevistas. Além disso, com a iniciativa Inclusive Future (Futuro Inclusivo) procurou — através de vídeos com casos de sucesso publicados na plataforma de orientação vocacional Design the Future — consciencializar pessoas e empresas para a importância de contratar pessoas com deficiência.
O objetivo “não é privilegiar” as pessoas com deficiência, apenas que as empresas passem a considerá-las nos processos de recrutamento “em igualdade de circunstâncias”, garante Rui Diniz. Não só por um dever de inclusão, mas também para resolver uma falha de mercado. “O preconceito é uma falha de mercado — é talvez a maior delas todas”, acredita o diretor da Nova SBE, Daniel Traça, que afirma ainda que “desperdiçar uma mente é sempre uma perda infinita para a sociedade”.

A motivação da empresa em contratar não precisa de ser, na perspetiva do ICF, um dever de responsabilidade social, pode assentar na consciência de que a contratação destas pessoas traz valor acrescentado para a sociedade e para as empresas. “Ao contrário do que se pensa, o emprego de pessoas com deficiência é positivo, acrescenta valor e não é um fardo. Se há pessoas habituadas a ultrapassar dificuldades são as pessoas com deficiência”, sublinha Rui Diniz. “Como em qualquer processo de recrutamento, importa encontrar as posições certas para as competências de cada um: perceber o que podem fazer, quais as suas capacidades...”

José Costa Cruz, diretor do Laboratório de Dados e Inteligência Artificial do BNP Paribas, corrobora. O banco já contratou três pessoas com incapacidade e o responsável garante que todos fazem o trabalho “de forma idêntica a qualquer outra pessoa” — ou até mais. “Como lhes é dada uma oportunidade que não foi fácil de obter, vão além daquilo que lhes é pedido.”

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