expresso.ptexpresso.pt - 23 mar. 23:00

Quem quer encontrar a alma gémea?

Quem quer encontrar a alma gémea?

Olhada como um “Black Mirror” francês, “Osmosis” mostra como a tecnologia pode mudar a procura do amor e quais os perigos da utilização dos dados dos cidadãos com vista ao desenvolvimento de aplicações. A série futurista passada em Paris estreia-se esta sexta-feira em streaming no Netflix

E se uma aplicação de encontros como o Tinder não utilizasse apenas as informações básicas de cada utilizador para apresentar possíveis conexões e fosse muito além disso? O que aconteceria se essas informações fossem cruzadas com inteligência artificial e biotecnologia para que se chegasse a um par mais compatível? E se o algoritmo do amor fosse uma realidade? E se isso acontecer mesmo, que implicações trará para a vida quotidiana?

O futuro está a ser construído a uma velocidade superior à que muitos julgam — a transformação digital é em tudo semelhante à Revolução Industrial e ao que esta trouxe para a vida de todos, mas aqui tudo acontece em esteroides. O que ontem era impensável já é realidade e esse pode muito bem ser um desafio também para a ficção. Talvez por isso a ficção científica siga não raras vezes para outras galáxias ou para universos povoados por super--heróis e deixe de parte a vida nas cidades que todos conhecemos.

A série britânica “Black Mirror” (Netflix) é talvez o maior exemplo de uma criação televisiva distópica que já muitas vezes casou com a realidade, mas isso não faz dela um produto menos vencedor. Até acaba por reforçar a sua missão — que cresceu até às quatro temporadas e já deu origem a um filme interativo “Black Mirror: Bandersnatch”, antes de uma quinta temporada a estrear-se ainda este ano.

“Osmosis” é a segunda produção da Netflix em solo francês, mas esta aposta é bem diferente do thriller político “Marseille”, protagonizado por Gérard Depardieu e visto no início como um “House of Cards” da política francesa. Não era, até pela natureza bem diferente da trama, e o mais certo é que “Osmosis” não seja a “Black Mirror” gaulesa. É, isso sim, uma chamada de atenção para a importância e para o perigo da utilização dos dados dos utilizadores para fins que não os expressos à partida. E liga-se em parte aos alarmes que têm soado nos últimos tempos sobre o tema.

“Recorrendo às memórias pessoais dos indivíduos e acumulando toda a informação das suas vidas, a app Osmosis consegue identificar, com certeza absoluta, o par perfeito de cada um, tanto a nível romântico como genético. Mas o que acontecerá quando as memórias dos utilizadores ficarem sujeitas a manipulação?” A sinopse da série mostra o caminho, mas esta abordagem a um futuro muito próximo, centrado na cidade de Paris, oferece um sem-número de teorias e temas para debate. É também esse o objetivo dos criadores Audrey Fouché (argumentista das séries “Les Revenants” e “Borgia”), Aude Albano e Claude Chelli (ambos produtores de “Versailles”), que trabalharam em equipa para dar corpo à série.

“O futuro que imaginei serve de espelho ao presente, misturando uma questão de sempre — ‘O que é o amor?’ — com respostas ultratecnológicas, que são tão incrivelmente sedutoras quanto perigosas”, explica Fouché em declarações disponibilizadas ao Expresso, e para quem a Netflix acabou por se revelar a plataforma certa para “explorar estas histórias tão contemporâneas de uma forma inovadora”. Do lado do gigante do streaming, o vice-presidente para as séries originais internacionais salienta que o objetivo é que a série, que “junta mistério, suspense e romance”, tenha um alcance semelhante ao de outros produtos produzidos em mercados que normalmente têm um poder menor de internacionalização. Segundo Erik Barmack, “Osmosis” quer ir além-fronteiras e a ideia é que esta seja um sucesso tanto junto do “público francês como global”.

Criada a partir de uma ideia original produzida pela Telfrance e pelo Arte, a nova série da Netflix foi filmada na íntegra em França e a produção decorreu durante o último ano — depois de um primeiro anúncio feito ainda em 2017. Protagonizada por Hugo Becker, Agathe Bonitzer, Luna Cottis, Manoel Dupont, Yuming Hey, Gael Kamilindi, Stéphane Pitti e Suzanne Rault-Balet, “Osmosis” contou com realização de Julius Berg, Pierre Aknine e Mona Achache. Os oito episódios da primeira temporada estreiam-se em simultâneo no serviço de televisão por subscrição da Netflix.

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