ionline.sapo.ptCarlos Carreiras - 16 jan. 09:21

A realidade sufoca as narrativas socialistas

A realidade sufoca as narrativas socialistas

Diz-nos agora o ministro Pedro Marques, curiosamente cada vez mais parecido com o seu antecessor socialista Mário Lino (o que também não espanta, foram colegas de governo), que de um dia para o outro há dinheiro para todas as obras que durante três anos não viram um cêntimo

1. A sabedoria popular diz que é possível enganar muita gente durante muito tempo mas não se pode enganar toda a gente o tempo todo.

Janeiro de 2019 marcou o fim desse tempo em que o Governo de António Costa enganava muita gente. À boa maneira socialista, atribuindo novos usos à língua, decidiu convencionar-se esse embuste como uma “qualidade”. Eufemisticamente um dos “talentos” de António Costa. Esse “talento” está agora bem à vista de todos.

O primeiro-ministro que não tem uma única obra para mostrar (pense lá nisso, qual é a obra de António Costa de que se recorda?), o líder do executivo que condenou as infraestruturas à degradação e esmagou o investimento em 75% do seu tempo de governação é o mesmo que agora promete fazer obras públicas de milhares de milhões de euros.

Aeroportos, estadas, comboios, portos, linhas de metropolitano. Estes foram os dias em que o governo prometeu tudo menos um vaivém espacial – para a propaganda não parecer demais. Prometeu tudo mas não para agora. Nem para o ano que vem. Promete lá para 2030, daqui a três legislaturas. Isto não cheira a esturro – isto é o esturro todo. É que em 2030 já Costa não precisará do seu voto. Ele é preciso é agora, em 2019. Ano que traz não uma mas três eleições. E se o PS fica nervoso com uma ida às urnas, com três entra no domínio da euforia.

Da “euforia despesista” como lhe chamou Mário Centeno por referência a outro governo socialista de má memória para o país.

Em 2009, José Sócrates apresentava-se ao país prometendo complementos sociais para as famílias pobres, linhas de TGV, novas carruagens para a linha de Cascais (para as quais, dizia-se, tinha até lançado um concurso), entre outras balelas sobra as quais só vimos, ouvimos e lemos nos media. Se pensa que 2009 foi ano de eleições, voilá!, acertou.

Uma década volvida, António Costa volta a cair no mesmo erro. Logo ele que tanto se esforçou por descolar do legado de Sócrates. Fê-lo da única maneira possível. Para ser o “anti-Sócrates” Costa tinha de fazer qualquer coisa entre não levar o país à bancarrota, por um lado, e/ou trazer o défice para zero, por outro.

Só que as coisas são mais complexas do que isto. A natureza humana é difícil de contrariar. E a natureza do costismo é profundamente socrática. Entre ministros e secretários de Estado, são onze os governantes que transitaram dos governos Sócrates para o governo Costa – incluindo o agora primeiro-ministro.

Descontando a política orçamental, para marcar a cisão, e a aliança com as esquerdas, pela ocasião de poder, tudo o resto se manteve constante. No essencial os dois governos são muito semelhantes: na obsessão pelo controlo do Estado, na criação de clientelas, no empobrecimento generalizado do país e sobretudo no recurso a uma propaganda deliberadamente usada para infantilizar os portugueses.

2. Outra conclusão que emerge da apresentação de investimentos por atacado é que a realidade, mais cedo do que tarde, acaba por se impor às narrativas. .

Afinal sempre há dinheiro para fazer um aeroporto – e eu acho bem que se faça para que Lisboa seja, finalmente, uma capital europeia.

Afinal sempre há lugar aos privados no transporte publico coletivo de passageiros, como prova a manutenção do modelo de concessão de transportes da Margem Sul – e eu acho muito bem que não haja a tal reversão que interessa muito à extrema-esquerda e nada aos passageiros.

Afinal sempre há 200 milhões para a Linha de Cascais – tal como sempre disse, esse dinheiro foi programado pelo anterior governo. Por causa de uma captura ideológica inaceitável, esse projeto de requalificação da Linha de Cascais nunca viu a luz do dia. Só parece não haver solução para a A5 e as duas vias em transporte público dedicado que aqui propus há mais de um ano e que, daí para cá, tenho vindo a negociar com Fernando Medina.

Não quero ser desmancha-prazeres. Mas se o plano é investir na Linha de Cascais em 2030, por essa altura já não vamos ter comboios por estas bandas. Lembro que já em 2008 os comboios da CP estavam classificados como “obsoletos”. Onze anos depois, não tendo mudado nada, só podem estar mais obsoletos. Em 2030? No longo prazo, como dizia Keynes, estaremos todos mortos. Propositadamente, as soluções do PS são todas para esse longo prazo onde pelo menos o escrutínio e a responsabilidade deste governo já não andarão por cá.

Tudo bem espremido e resumido, percebemos que o governo andou três anos a fazer procrastinação ideológica. Voltámos a muitas das soluções que foram deixadas pelo anterior governo e no entretanto apenas agravamos o problema do transporte público com uma estratégia injusta de centralização de investimentos em Lisboa – que, na verdade, em vez de mitigarem os efeitos de congestionamento na capital apenas os aumentaram.

Podemos, então, ser levados a pensar que agora sim, é tempo de fazer. Infelizmente não. Agora é tempo de prometer para renovar o poder.

Quando já não houver estradas e pontes e comboios decentes neste país, quando mais catástrofes acontecerem, logo se vê. A propaganda algum bode expiatório arranjará.

P.S.: ao que parece Pedro Marques encabeçará a lista do PS ao Parlamento Europeu. Depois de Vítor Constâncio, é mais uma exportação socialista de alto valor acrescentado para as instâncias europeias. Não serviu bem o país mas espero, e desejo, que sirva bem a Europa.

Faço votos para que com a mudança de ministro mudem também as políticas de transportes e infraestruturas em Portugal.

Escreve à quarta-feira

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