visao.sapo.ptvisao.sapo.pt - 10 dez. 11:37

Jornalista saudita assassinado percebeu que alguma coisa estava errada mal entrou no consulado

Jornalista saudita assassinado percebeu que alguma coisa estava errada mal entrou no consulado

Na transcrição mais completa a que a CNN teve acesso até hoje, através de uma fonte, lê-se que apesar de Jamal Khashoggi ter entrado no consulado saudita acreditando que ia apenas buscar os papéis necessários ao casamento com a sua noiva turca, não tardou a perceber que algo de errado se passava

A transcrição começa no momento em que o jornalista saudita entra no consulado do seu país, numa zona residencial e tranquila de Istambul, Turquia, no passado dia 2 de outubro, durante a hora de almoço. Khashoggi tinha uma marcação para levantar um documento que certificava que não era casado, necessário à sua união com a turca Hatice Cengiz, mas, segundo a fonte da CNN que teve acesso à transição, o jornalista não tardou a estranhar a presença de um homem, que reconheceu mal o viu.

Khashoggi pergunta-lhe o que está ali a fazer e uma voz, identificada como a de Maher Abdulaziz Mutreb, antigo diplomata que trabalha para o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, e é conhecido do colunista do Washington Post do seu tempo da embaixada saudita em Londres, responde: "Vais voltar."

"Não podes fazer isso", ouve-se Khashoggi responder, "Há pessoas lá fora à espera". Por precaução - crítico da família real, Khashoggi vivia exilado nos Estados Unidos -, a noiva ficara no exterior, com instruções para pedir ajuda se ele não saísse.

Segundo a fonte da CNN, sem mais diálogos, a transcrição deixa perceber que o jornalista foi atacado por várias pessoas e que, em breve, lhe faltava o ar.

"Não consigo respirar", repetiu Khashoggi, que, depois de estrangulado, foi desmembrado com uma serra.

Sob pressão internacional, Riade reconheceu após vários dias o assassínio do jornalista no seu consulado numa operação "não autorizada", mas apresentou várias versões contraditórias, incluindo ter-se tratado de uma operação extraordinária que correu mal e que o colunista do jornal norte-americano teria sido estrangulado por acidente, versão que é desmentida pelos sucessivos "não consigo respirar" que se ouvem na gravação.

A transcrição original foi obtida pelos serviços de informações turcos, que nunca disseram como obtiveram o áudio. Antes de ser partilhada com outras agências, a transcrição foi traduzida e foi a uma dessas versões traduzidas que a fonte da CNN teve acesso.

A única outra voz identificada pelas autoridades turcas, além da de Khashoggi e Mutreb, é a de Salah Muhammad al-Tubaiqi, responsável forense do Ministério do Interior saudita, que é ouvido a aconselhar os outros presentes a colocarem auscultadores ou ouvir música durante o procedimento.

Audíveis são também os telefonemas que Mutreb foi fazendo, aparentemente a dar conta do progresso da operação. "Está feito, está feito", diz, por fim.

Mutreb, Tubaiqi e outros 13 responsáveis saudita aterraram em Istambul nos dias que antecederam o episódio e imagens das câmaras de vigilância mostram 15 homens a entrar no consulado pouco antes de Khashoggi e a sair algumas horas mais tarde.

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