expresso.sapo.ptexpresso.sapo.pt - 18 nov. 10:00

Acidentes com trotinetas já duplicaram neste ano

Acidentes com trotinetas já duplicaram neste ano

Equiparadas a bicicletas e tendo o benefício da isenção de homologação e de inspeção, as trotinetas elétricas trazem soluções. E problemas

A definição perde-se em memórias de infância, do “brinquedo que consiste numa tabuinha alongada sobre duas rodas colocadas uma à frente e outra atrás, sendo a da frente orientável por meio de um guiador” (Dicionário Priberam). O funcionamento mantém-se, mas o “brinquedo” ganhou motor elétrico e veio somar-se, para já e sobretudo em Lisboa, a outros novos meios de locomoção que ganham espaço nas cidades. Na capital, um boom de trotinetas começou há mês e meio, com a chegada da empresa Lime, cujos velocípedes podem ser alugados por €0,15/min. (e uma ‘bandeirada’ de €1). Há atualmente “entre 200 e 400” trotinetas elétricas, segundo Nuno Inácio, diretor da empresa em Portugal.

Esta deixará, muito em breve, de ter o monopólio do mercado. Dois concorrentes, a iomo e a Bongo (com ofertas de serviço em tudo idênticas), já fizeram chegar à Câmara a intenção de se estabelecerem na cidade. Já a Lime tenciona expandir-se para outras cidades, como Porto, Oeiras, Coimbra, Braga e Aveiro.

A nova realidade já se traduziu num aumento de sinistralidade. Se bem que a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) não contemple, nas suas estatísticas, informação sobre trotinetas, segundo a PSP até outubro deste ano já se registou, no país, o dobro dos acidentes de todo o ano passado (18 contra 9). E dos sinistros em 2018, quatro ocorreram em outubro, um valor bem superior à média até então registada (pouco mais de 1,5 acidentes/mês).

Paulo Simão Caldas, advogado em Lisboa, resolveu há cerca de um mês experimentar o “brinquedo”, como diz. Uma queda, que atribui a falha nos travões, partiu-lhe um braço em dois sítios, fraturou uma costela e provocou um traumatismo craniano. Conta ter ainda mais quatro semanas de recuperação. Por estes dias, Caldas mantém uma troca de e-mails com representantes da Lime. “Já me pediram para anexar despesas ao processo, mas ainda não me disseram que vão pagar. E quero ser ressarcido dos danos não patrimoniais.”

Estando a utilização de trotinetas isenta de seguro automóvel, sendo a questão implicitamente remetida para eventual seguro de responsabilidade civil do cliente, o Expresso questionou a Lime sobre situações como a de Caldas. A empresa respondeu que “todos os utilizadores estão cobertos por um seguro global durante as suas viagens, que cobre a pessoa em caso de acidente”. Uma novidade para o sinistrado, que mesmo sendo advogado não descortinara ainda na informação da Lime qualquer garantia daquela natureza.

As trotinetas elétricas estão equiparadas a velocípedes. É como se fossem bicicletas: não precisam de carta, matrícula ou seguro automóvel. O seu êxito está no facto de, por declaração de marcas e comercializadores, terem uma velocidade abaixo dos 25 km/h, o que as dispensa de homologação e de inspeção periódica. “Alguém estudou bem este negócio. É preciso que alguma entidade oficial certifique que o veículo só dá mesmo 24 km/h”, diz Paulo Simão Caldas.

Mas ainda é cedo para reações oficiais. O “brinquedo” está na moda, anda depressa e não se deixa apanhar.

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