www.jn.ptjn.pt - 13 nov. 21:38

Moradores e turistas vão coabitar na ilha do Monte da Lapa

Moradores e turistas vão coabitar na ilha do Monte da Lapa

Empresa vai construir empreendimento mas mantém alguns dos residentes mais antigos. Também há quem seja obrigado a sair.

Parte da ilha do Monte da Lapa, junto à Praça da República, no Porto, vai ser transformada num empreendimento turístico. Os moradores que ocupavam as habitações, de forma ilegítima, terão de sair. Mas 11 das 32 casas da ilha vão continuar a ser para arrendamento. Oito já têm contrato com os moradores atuais. Três permanecem disponíveis.

"Fizemos contratos de 30 anos com pessoas que têm 90, a quem nós reconhecemos o direito de lá estar. Pagam 30, 40 ou 50 euros de renda e vão ficar a pagar o mesmo depois das casas estarem recuperadas", diz um responsável da Pedra Líquida, a empresa que comprou a ilha em 2014. Os trabalhos de requalificação estão a começar agora. Toda a ilha vai ser recuperada. A construção do empreendimento turístico é que permitirá manter as rendas baixas.

"A ideia nunca foi chegar ali e arrasar com aquilo", garante o mesmo responsável. Mas o facto é que há várias famílias que terão de deixar a Lapa, apesar de ali morarem há muitos anos. As ordens de despejo já chegaram.

"Vivo aqui desde que nasci e foi cá que criei os meus quatro filhos", conta Felisberta Nogueira, de 53 anos. O contrato de comodato não lhe assegura a casa e vai ter de sair. "Quando recebi a ordem de despejo, deixei de pagar. Já sabia que não valia a pena", explica.

A Pedra Líquida comprou a ilha, com a condição de que estaria tudo livre. Mas isso não se verificou. "Andámos de casa em casa e deixámos cartas. Muitas vieram para trás. Fomos bater às portas. Demorou quase um ano para conseguirmos chegar a toda a gente", assegura fonte da empresa.

"Bateram-me à porta a dizer que tinha de sair. Era uma agente de execução de Gaia", disse Filipa César, que ocupa o número 93 há dois anos, indevidamente. Sem ter para onde ir, com três filhos menores, já começou a procurar uma nova casa. "Tentei enviar um requerimento à Domus Social [empresa municipal do Porto], mas disseram-me que não há casas disponíveis", explica. Sem condições de salubridade e sem um contrato de arrendamento válido, Filipa desespera: "Não quero que me tirem os meus filhos. Não posso ficar na rua".

José Lobo já está a retirar as coisas. "Só saio porque tenho onde viver. Vou para casa do meu filho. Não ia para debaixo da ponte", afirma. "Não quero problemas. Ainda me disseram que tenho um prazo para a entregar, se não vou ter de pagar a demolição disto".

"Vivo aqui desde que nasci e criei cá os meus filhos. Quando recebi a ordem de despejo, deixei de pagar. Já sabia que não valia a pena"

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