Camilo Lourenço - 20 ago. 17:53
Estado de fora, impérios empresariais sólidos
Estado de fora, impérios empresariais sólidos
Portugal ganharia muito se tivesse mais Champalimauds, Amorins, Belmiros e PêQuêPês, que não correm a beijar a mão a primeiros-ministros e Presidentes.
A morte de Queiroz Pereira, depois de Américo Amorim, Belmiro de Azevedo e mais longinquamente de António Champalimaud, deveria motivar uma reflexão: os impérios empresariais são mais sólidos quando o Estado e o poder político não metem lá o bedelho?
Sem dúvida. Em 2006, quando Paulo Azevedo apresentou a OPA à PT a Sócrates, e quando este lhe perguntou o que achava, Belmiro respondeu: "Nada. Não fora pelo meu filho, nem estaria aqui." Amorim não ficou atrás na independência. PêQuêPê, de geração diferente e marcado pelo "exílio" no Brasil, depois de março de 1975, também não. As batalhas que travou (v.g. controlo da Cimpor) nunca tiveram o ombro do Estado. E até ajudou o Estado a pôr na rua um Ricardo Salgado que ninguém ousava contrariar (as informações que deu ao Banco de Portugal ajudaram a perceber o periclitante estado do banco). Há pouco tempo falei com ele sobre o impasse do investimento da Navigator em Moçambique e percebi que era o mesmo PêQuêPê que conheci há 30 anos: os projetos justificam-se pelo seu "valor", não por outros atributos…
PêQuêPê perdeu com a independência? Sim. Como Belmiro, Amorim e Champalimaud. Mas ganhou outras coisas. A resiliência do grupo, por exemplo. É a lição mais importante que nos deixam: a obra empresarial ganha solidez quando não há favores e compadrio político. Coteje-se estes exemplos com os que cresceram em concubinato com o poder político (BES, GES, PT, etc.)…
Portugal ganharia muito se tivesse mais Champalimauds, Amorins, Belmiros e PêQuêPês, que não correm a beijar a mão a primeiros-ministros e Presidentes.
Jornalista de Economia
Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico