observador.ptobservador.pt - 20 ago. 22:11

Afinal o casal de ciclistas assassinado pelo EI não viajava para “provar” bondade humana

Afinal o casal de ciclistas assassinado pelo EI não viajava para “provar” bondade humana

Lauren Geoghegan e Jay Austin foram mortos pelo Estado Islâmico quando davam a volta ao mundo em bicicleta. Mas, ao contrário do que se noticiou, não estavam a viajar para "provar" a bondade humana.

Lauren Geoghegan e Jay Austin deixaram os Estados Unidos em 2017. O casal abandonou os respetivos trabalhos em escritórios de Washington para viajar pelo mundo em bicicleta. No 369º dia de viagem, foram mortes num ataque que foi reivindicado pelo Estado Islâmico.

Great roads, great views, great company. ???? After nine relaxing days in Osh, it's nice to be back on the bikes and heading up into the mountains.

A post shared by Jay Austin (@simplycycling) on Jul 2, 2018 at 3:54am PDT

O incidente ocorreu a 29 de julho de 2018. Lauren e Jay viajavam com um grupo de turistas no sudoeste do Tajiquistão, quando um veículo passou pelos viajantes, inverteu a marcha e avançou sobre os ciclistas. Do ataque resultaram quatro mortos, o casal americano, um turista holandês e um turista suíço. O motorista do carro que os atropelou registou o momento em vídeo com o telemóvel.

Dois dias mais tarde, o Estado Islâmico publicou um vídeo em que reclamava a autoria do ataque. O vídeo mostrava cinco homens — que tinham a bandeira do Daesh como fundo — que afirmavam ser os autores do assassinato e juravam matar os “não crentes” que invadissem o seu território.

A notícia foi inicialmente divulgada pelo New York Times a 7 de agosto, num texto que recria a viagem de Lauren e Jay através das publicações que estes divulgavam num blogue e nas redes sociais. Dias mais tarde, o Pluralist divulgou a história sob o título “Casal Millennial que pedalava pelo território do ISIS para provar que ‘os humanos são generosos’ foi assassinado”. Os artigos foram amplamente partilhados e discutidos nas redes sociais.

????️???? The polar vortex has arrived, and Lauren appears to be handling the -19C wind chill much more fashionably (and much less melodramatically) than I am. That lovely ensemble on the right consists of six top layers, four bottom layers, two beanies, four hoods, and four neck warmers, and it's still pretty damn cold. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ This photograph was taken ( ????: @lauranne09 ) atop a mountain in Croatia with 50+ kilometer-per-hour winds, which is perhaps a strange place to find ourselves when the aim is to be hiding from the storm somewhere indoors back in Italy. But anyway. Here we are. ????????

A post shared by Jay Austin (@simplycycling) on Mar 3, 2018 at 7:14am PST

No entanto, o site de fact checking Snopes publicou um artigo em que verifica estes artigos. O site conclui que, ainda que o Pluralist recrie “com precisão” a viagem e morte do casal, o título e algumas frases “criam a impressão de que a morte do casal era uma ironia e servia como uma espécie de aviso alegórico sobre a ingenuidade liberal e cosmopolita”.

O artigo prossegue esclarecendo que no site onde o casal documentava a viagem, não há qualquer indício de que o casal tinha como objetivo “provar” a bondade e generosidade humana. Pelo contrário, a viagem aparenta ser motivada por um desejo de aventura e de experimentar viver em diferentes sítios do mundo.

We spent most of the week off the #bikes at a really beautiful ecolodge in the mountains, #camping right on the edge of a cliff. We woke up every morning to incredible sunrises over Lake #Malawi, ate good food, and met some great people. Alas, with just a few days left on our Malawian visas, we're now left racing toward the Tanzanian border before they expire … ➡️ ????????

A post shared by Jay Austin (@simplycycling) on Nov 6, 2017 at 9:21am PST

“Estou cansado de reuniões, de tele-conferências, de horários e mudanças de palavras-passe e da comiseração de segunda-feira de manhã no elevador. Estou cansado de passar as melhores horas do meu dia à frente de um retângulo brilhante, de que a cor dos meus melhores anos seja o cinzento e o bege. Já perdi demasiados pôr-do-sol. Demasiadas trovoadas passaram sem ser vistas, demasiadas brisas suaves não foram sentidas. Existe magia por aí, nesse grande maravilhoso e bonito mundo e há muito que agarrei os últimos bocadinhos que podem ser encontrados no meu cubículo. Eu sei que há outra forma de vida. Eu já a experimentei. Mas agora é tempo para me comprometer com ela”, escreveu Jay Austin no blogue.

Every rest day is a pancakes day. ????????

A post shared by Jay Austin (@simplycycling) on Jun 13, 2018 at 2:55am PDT

Efetivamente, o artigo confirma que as publicações do casal fazem, por várias vezes, referência aos atos de generosidade praticados pelas pessoas com que se cruzaram ao longo de mais de um ano de viagem. Contudo, Jay Austin revela, numa publicação de 5 de abril, que esta bondade foi algo que o surpreendeu durante a viagem e não uma convicção com que partiu e que pretendia “provar”. “A maldade existe, claro, mas ainda assim é rara. Maioritariamente, os seres humanos são bondosos (…) Esta é a maior revelação que saí desta viagem”, pode ler-se.

This is Franck. The dog in Franck's bag is Indra. We spotted Indra poking out of Franck's backpack about ten kilometers back and thought it was the cutest thing, but otherwise kept our heads down and focused on getting through Nice before dark to find a quiet place to wild-camp, which was shaping up to be a difficult task in this crowded, ritzy section of the Cote d'Azur. ???????? A few minutes down the trail, though, Franck pulled up alongside me and asked where we were headed and if we had a safe, warm place to sleep for the night. I told him we weren't sure, but would probably manage. Franck wasn't convinced. ???? Twenty minutes later, we found ourselves in Franck's cozy rooftop flat right in the middle of Nice, with delicious pizza on the way and hot tea in our mugs and the Winter Olympics playing on the television. ???????????? Such a delightful, surprising evening (especially compared to our expectations of another cold night in the tent) ????.

A post shared by Jay Austin (@simplycycling) on Feb 26, 2018 at 9:55am PST

O Snopes afirma ainda que é pouco provável que o casal tivesse consciência do nível de perigo de ataque terrorista. À data do ataque, o Tajiquistão era classificado pelo governo norte-americano como nível 1 de perigo terrorista — o mais baixo da escala pelo que seria mais considerado mais perigoso para o casal viajar, por exemplo, para Londres. O território em causa não é território do Estado Islâmico, apesar da proximidade com o norte do Afeganistão, onde a atividade terrorista é intensa.

Desde que o fact checking foi divulgado, o Pluralist publicou uma correção à história original, alterando para “Casal Millennial que pedalava perto do território do ISIS pensando que ‘os humanos são generosos’ foi assassinado”.

Five months since setting out from where the Indian Ocean meets the Atlantic, we've finally rejoined the coast. ???????? ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ——- ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ????????‍♂️????????‍♂️ #biketouring #bicycletouring #biketour #bicycletour ????

A post shared by Jay Austin (@simplycycling) on Nov 30, 2017 at 6:32am PST

NewsItem [
pubDate=2018-08-20 23:11:10.0
, url=https://observador.pt/2018/08/20/afinal-o-casal-de-ciclistas-assassinado-por-isis-nao-viajava-para-provar-bondade-humana/
, host=observador.pt
, wordCount=1143
, contentCount=1
, socialActionCount=0
, slug=2018_08_20_1128879646_afinal-o-casal-de-ciclistas-assassinado-pelo-ei-nao-viajava-para-provar-bondade-humana
, topics=[estados unidos da américa, estado islâmico, mundo, américa]
, sections=[actualidade]
, score=0.000000]