www.sabado.ptFlash - 22 mai. 10:00

O elefante

O elefante

Há duas premissas claras a este respeito: não coloco nem colocarei em causa o princípio da presunção de inocência e a corrupção não é um problema de esquerda ou de direita. É, aliás, um problema da democracia e do nosso País.

Nas últimas semanas quebrou-se o pacto de silêncio que durante demasiado tempo se manteve quanto ao tema da corrupção. Se é verdade que o elefante continua dentro da sala, agora passou a ser falado e comentado e o incómodo é evidente. 

Mas da mesma forma como deixo estas duas notas iniciais, permitam-me agora que não enverede pelo caminho bacoco e bafiento daqueles que querem já matar o assunto à partida porque, dizem, "todos saem prejudicados ". Pois saem, sobretudo os que não querem levar com o rótulo de que "são todos iguais". Para não sermos todos nivelados pela mediocridade está mesmo na hora de falarmos sem apelo nem agravo de uma das maiores chagas da Democracia. Dir-me-ão alguns que também os há, os corruptos e prevaricadores, no meu Partido. Pois bem, foi exatamente por isso que ainda na semana passada a Juventude Social Democrata enviou uma carta a pedir que nas regras internas do PSD essa passe a ser uma das causas de expulsão. Só se lidera pelo exemplo, e o PSD pode, até porque tem essas condições, começar dentro de casa a fazer aquilo que exige dos outros lá fora.

E lá fora há um caso que salta à vista. Já que foi o próprio Partido Socialista a publicamente abrir as hostilidades e renegar politicamente um anterior seu Secretário-Geral, acabaram-se as desculpas de fazermos todos um silêncio marciano a propósito do caso que considero mostrar mais cabalmente as fragilidades da nossa Democracia.

Não haverá, com certeza, culpados por associação, mas houve uma associação de factos e de protagonistas que estão a ser alvo de investigação por suspeitas de corrupção. E se é verdade que a corrupção não é de esquerda nem de direita, também o é a noção de que um conjunto de indivíduos oriundos de um mesmo Governo liderado por um determinado partido está associado a uma teia de promiscuidade e suspeição que não pode ser ignorado.  Ou melhor, houve sinais que foram demasiado tempo sucessivamente ignorados. As obras faraónicas, o condicionamento da comunicação social, a mentira e a manipulação como forma de ser e de fazer política, a "complacência" de alguns dos mais destacados representantes do sistema judicial, a triunfante caminhada para o abismo que foi sendo feita alegremente até ao pedido de ajuda externa, enfim, estamos já todos recordados da asfixia ou claustrofobia democrática que houve quem em tempos tivesse alertado, em vão.

À justiça o que é da justiça, naturalmente. Mas há juízos políticos que devem ser feitos. E se hoje se respira mais livremente em Portugal, em parte também se deve à alteração inegável que o Ministério Público conheceu. Resta saber da parte do Governo qual será a postura relativamente a tudo isto.  Começando, desde logo, pela necessária recondução da atual Procuradora-Geral da República.

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